Todo mundo precisa de uma bola de segurança. O
conceito é importado do vôlei. Para quem não é afeito ao esporte, vou explicar.
É aquele atacante que quando as coisas estão apertadas, o levantador aciona
para que o time faça o ponto. Essa bola de segurança vai mudando ao longo da
vida, nos diferentes campos em que o jogo se desenvolve. Por exemplo, em
família. Talvez a primeira bola de segurança da vida seja a mãe. O primeiro
lance, óbvio, é que sem o alimento que sai dela você não sobreviveria. Mas há
muitos outros. Lembro sempre de uma vez que quiseram levar minha bicicleta na
frente de casa. Fiz o que do alto dos meus 13 anos achei o mais sensato: agarrei-me
à bicicleta e chamei minha mãe. Ela, com o seu 1,47 m, saiu de casa “armada”
com uma vassoura e colocou o assaltante pra correr. Essa bola de segurança
perdi há 16 anos, mas ainda sinto falta...
Outra bola de segurança é o irmão mais velho. Teve uma vez que me meti
numa encrenca idiota. Um cara achou que eu estava olhando para a namorada de um
amigo dele (eu não estava!). O cidadão era o protótipo do playboyzinho lutador.
Surra na certa. No entanto, meu irmão, professor de luta-livre e músico, se
apresentava no local. Num momento que fui ao banheiro, o cara me interpelou.
Meu amigo Marcio, um desses irmãos que a vida dá pra gente, sentiu que a barra pesara e avisou meu irmão
de sangue. No momento que poderia ser o de um soco de consequências graves para
o futuro dos meus dentes, meu irmão entra no banheiro e pergunta: “Está tudo
bem, Junior”? E eu completo: “Tudo certo, irmão”. E completo olhando para o
outro cara: “Ele é meu irmão”. Bem essa bola de segurança me rendeu um chopp de
graça pago pelo meu quase agressor.
Uma vez reprovei uma aluna. No período seguinte ela fez a matéria comigo
e passou. No fim do curso a turma teve a insensatez de me homenagear. A moça,
que realmente eu não tinha nada contra, me apresentou à família. E disse: ”Foi
ele que me reprovou. foi na primeira turma que ele deu aula. Na segunda vez,
ele já tinha aprendido mais um pouquinho e aí, eu passei”. De bate-pronto minha
mulher respondeu: “E você estudou mais um pouquinho”. Case-se com alguém que
você possa ser e ter a bola de segurança.
O conceito de bola de segurança pode ser transposto também para o cinema.
A gente pode destacar parcerias clássicas como as de Alfred Hitchcock e James
Stewart, Martin Scorcese e Robert De Niro, Fellini e Marcello Mastroianni. Na
TV, Janete Clair tinha em Francisco Cuoco e Dina Sfat as bolas de segurança dela.
Gilberto Braga tem Malu Mader e Glória Pires, por exemplo.
Walcyr Carrasco na nova novela usa mão de duas bolas de segurança.
Sergio Guizé, de Êta mundo bom, e Marieta Severo, de Verdades secretas. As
bolas de segurança na dramaturgia servem para você direcionar as histórias
quando as mesmas parecem emperrar. São aqueles personagens que muitas vezes o
autor coloca na boca as palavras que queria dizer.
Na sua vida profissional você também tem e é bola de segurança. No
entanto, ser uma bola de segurança requer uma visão que às vezes você não está
preparado. Em muitas oportunidades, a bola de segurança se ressente porque a “jogada”
só vai em sua direção quando há problemas. Em contrapartida, quem aciona a bola
de segurança deve ter a sensibilidade de usá-la em outras situações que não as
de resolução de encrencas. Caso contrário a jogada fica marcada e o ponto não
vem.
Pensei em bola de segurança porque me lembrei muito da Elis Regina. “Nem
sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”. Acho que
aprender o jogo seja o mais difícil da vida, aliás, é um aprendizado em
progresso, sempre incompleto.
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