Noite vazia
Andar pela noite do Rio de Janeiro pode causar depressão.
Se você é da minha geração e se lembra de fervilhantes nights ao ar livre no
Baixo Gávea ou no Baixo Leblon pode até se assustar. A primeira coisa: os
restaurantes fecham cedo. "Ah, o que você chama de cedo"? Dez e meia da noite,
que tal?
Isso porque eu estava na Barra da Tijuca. A minha
depressão se deu no Shopping Downtown. Ver os restaurantes fechados, o
estacionamento vazio meia-noite e meia foi de cortar o coração. O pior foi
reparar também paredes descascadas e várias placas de “aluga-se” nas lojas. Lembrei-me
de Elis Regina “tá tudo Down no High Society”.
Não sou um pessimista, mas realmente gostaria que essa
recuperação econômica cantada em Brasília por aquele senhor que conversa com empresários na calada da noite chegasse ao Rio de Janeiro.
Num posto de gasolina, o frentista avisou. “Ih, amigo, aqui a gente fecha tudo
meia-noite. Ninguém está saindo”. Sociologicamente emendou: “É a falta de
dinheiro e o medo, a cidade não está fácil”. E tudo isso na véspera de um
feriado.
Meu filho foi para a primeira festa da alforria dele.
Saiu duas da manhã de uma farra numa boate sem a companhia dos pais. Claro,
ambiente protegido e no fim o serviço individual de transporte estava na porta
e o levou para casa.
Voltando para casa, fui parado numa blitz da Lei Seca. Estávamos eu, minha mulher, meu filho e um
amigo a quem dávamos carona. Fui lá, fiz o teste do bafômetro e voltei para o
carro vitorioso. Ao retomar o caminho, disse a eles que nada paga a tranquilidade
de poder passar pela blitz da Lei Seca e que bebida e direção não se misturam.
Orgulhei-me de poder dar o exemplo a ele e ao amigo.
Logo na sequência uma blitz na entrada do Zuzu Angel parava
motoristas. Os policiais materializavam a frase do frentista: “a cidade não
está fácil”.Nessa acendi a luz interna e me deixaram passar. Aos pés da Rocinha
a Polícia fazia a operação. Ok, mas todo mundo sabe que os bandidos que atormentam
o local há quase um mês não usam o asfalto. Cruzam a cidade pelo mato, mais
precisamente pela Floresta da Tijuca. E sem que a polícia os incomode.
Como se fosse o reduto da resistência carioca, o Belmonte
na Domingos Ferreira fervilhava, em contraste com a noite down do Downtown. Espero
que o Rio recupere o astral, a irreverência e a pluralidade para que nossos
filhos e nossos netos possam conhecer com prazer e segurança os mistérios que
só a noite do Rio tem.
Compartilho da sua tristeza ao ver um povo tão agregador sitiado e impossibilitado de curtir a sua cidade. Imagine os subúrbios da cidade onde o hábito era sentar a calçada para cobrar com os vizinhos enquanto as crianças brincavam.
ResponderExcluirFeliz pela oportunidade que teve de dar exemplo ao filho, pelo que conheço dele ele ficou orgulhoso do pai.