O dia era 27 de maio de 2001. Eu fui à Igreja de Santa
Margarida Maria, na Lagoa. Era dia do meu “curso de noivos”. Uma manhã em que
você escuta palestras sobre a boa convivência e harmonia. Manual de instruções
para o casal levar o casamento à sério. Eu me casaria em um pouco mais de um
mês e essa era uma das burocracias a se cumprir.
O curso durou das 7h da manhã às 13h. Na saída, minha futura mulher iria
almoçar com a mãe. Eu não podia, tinha outro compromisso. Flamengo e Vasco
fariam a finalíssima do Carioca. Depois de 2 anos, um fortíssimo time do Vasco,
último campeão brasileiro, tentaria dar fim à sina de perder finais para o
rival.
A primeira partida tinha sido 2 a 1 para o Vasco o que obrigava o
rubro-negro a vencer por dois gols de diferença. Essa partida de 20 de maio
ficou marcada para mim. Estava fazendo o “falecido” amarelinho do lado de fora
do Maracanã. Era uma época, digamos, de “litígio” da torcida do Vasco com o Grupo
Globo. Ao passar pela rampa da UERJ, torcedores de uma facção jogaram pedras no
nosso carro.
No domingo seguinte não consegui ingresso e fui na Tribuna de Imprensa.
Fato que impede arroubos de torcedor. Você podia no máximo chutar a cadeira e
apertar as mãos, desde que discretamente. Bem, a movimentação do placar é
histórica. O Flamengo faz 1 a 0 e ainda no primeiro tempo o Vasco
empatou.
Paulo Júlio Clement era o gerente de Esportes do Sistema Globo de Rádio na
época. Com aquela fina ironia e o sorriso debochado me disse: “hoje vai ser
difícil para o seu time”. Por amizade e respeito não fiz considerações sobre
seu comentário naquele momento. Mas ruminei coisas bem feias para lhe dizer por
causa da pilhéria.
O Flamengo foi pra cima no segundo do tempo. Fez 2 a 1. O gol reacendeu
a esperança na torcida. E eu contido pela liturgia da Tribuna nada podia
fazer.
Eis que aos 43 do segundo tempo. Surge uma falta distante. O Pet ajeita.
Na Tribuna, atrás de mim estava um jornalista vascaíno. Ele ficou o segundo
tempo inteiro dizendo que estava com o mesmo casaco do jogo em que o Vasco
venceu Flamengo com p gol do Cocada.
Quando o sérvio se preparava para bater a falta, o jornalista/torcedor
jogou o casaco na cadeira e num mal presságio emendou: “Rodrigo Mendes de novo,
não”. Nota para quem não acompanha futebol. Rodrigo Mendes é um daqueles heróis
improváveis do futebol. No campeonato de 99 ele bateu mal uma falta, a bola
desviou na barreira e tirou qualquer chance do goleiro do Vasco defender. O
lance deu o título ao Flamengo.
Voltando ao dia 27 de maio de 2001. Pet bateu, a bola entrou. Eu estava
tão nervoso, que percebi o destino do chute quando a torcida atrás do gol se
levantou. Naquele momento, não houve liturgia na Tribuna que resolvesse a
empolgação dos rubro-negros. Esse que vos escreve se ajoelhou, abraçado a
outros.
Paulo Júlio passou por mim e com o sorriso debochado manda: “coisa feia,
jornalista”. Riu e vai embora. Apesar de tricolor apaixonado, ele não revelava seu time em palestras ou nas redes sociais. Não queria ser importunado por isso.
PJ quis me levar para a equipe de esportes da CBN, mas eu iria me casar
e não estava com disposição de abrir mão dos meus domingos. No entanto, sempre
que precisava, ele me acionava para cobrir folgas e férias.
Profissionalmente, nosso último contato foi quando mediei uma mesa sobre
futebol na PUC. Sempre tinha notícias dele pelo Claudio Henrique e pelo
Giovanni Faria
Resolvi compartilhar essa história porque ela mostra quem era o Paulo
Júlio, um cara espirituoso e com tiradas engraçadas, além de tudo, um cara competente e do bem.
Uma pessoa que faz muita falta nesses tempos em que o humor é artigo
raro nas relações humanas.
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