Pensar uma programação de rádio não segue uma lógica de
pensar uma programação de TV. Os dois veículos são irmãos, mas diria que são
mais Caim e Abel do que para Cosme Damião.
Coisas que servem a um podem ou não servir ao outro. Há
pessoas oriundas da TV que arrebentam no rádio, assim como pessoas que oriundas
do rádio fazem muito bem televisão. É necessário entender a manha do veículo
que está em suas mãos.
Um exemplo clássico bem sucedido foi o de Ary Barroso.
Narrador esportivo com todos os erres, ecos e prosódias inerentes ao rádio,
soube ser contido quando passou a transmitir na televisão Ary Barroso televisivo
não brigava com a imagem, não era palavroso.
O Rádio é o espetáculo do som, da palavra, a televisão é
a primazia da imagem. O close da TV é a palavra amiga do Rádio. Os dois podem
se juntar, mas tudo deve respeitar a característica da plataforma.
Em A cultura da convergência, Henry Jenkins afirma que um
veículo não vai matar o outro, vai se adaptar e apresentar novas alternativas.
Então, vamos superar essa etapa. A TV não vai matar o rádio, apesar daquela
relação Caim e Abel a que me referi lá em cima.
Acredito firmemente que a forma de aferição da audiência
no rádio privilegia a repetição em detrimento do rodízio, da falta de rotina.
Na televisão, com o Ibope sendo medido minuto a minuto, as correções de rota
são mais calculáveis. Existe a resposta na hora. No rádio, com a medição de
audiência do século passado se privilegia a linha do tempo, a média.
As rádios deveriam pressionar o Ibope a fazer uma
pesquisa mais ágil. O rádio, imediatista por excelência, só tem a perder com
essa metodologia de audiência.
A Rádio Globo, por exemplo, mudou sua programação em
junho. O primeiro resultado só com a nova programação foi no ibope de outubro.
Logo, pela média, os gestores estão olhando para um quadro passado, que não
representa mais o momento de audiência da rádio.
A mesma coisa vale para a Tupi. A emissora só teve o
primeiro resultado com a nova manhã em setembro. Pois nos boletins de audiência
anteriores ainda havia a “contaminação” com os números da grade antiga.
A CBN trocou o apresentador do CBN Rio no final de
outubro. Sabe quando a rádio vai ter o primeiro retorno do resultado com os novos
apresentadores? No Ibope que sair na primeira semana de fevereiro!!!
E vai o rádio nessa caminhada paradoxal, um veículo da
simultaneidade, feito ao vivo, mas que só sabe o resultado do que está fazendo
hoje daqui a três meses. Ao passo que a televisão tem produções caras e
gravadas, mas com uma aferição de resultados imediata. Como resultado disso
consegue corrigir seus produtos de forma mais rápida.
Então se dá o “drama” das rádios hoje em dia. Acontece
uma greve de ônibus na cidade. As emissoras jornalísticas como CBN e Bandnews têm
a “prerrogativa” com seus ouvinte de mudar a programação ao sabor das
necessidades do cotidiano.
Agora vá você tirar um programa tradicional do ar numa
emissora como a Tupi, por exemplo, para transmitir a sucessão do Papa ou a
invasão do Alemão. Os ouvintes vão reclamar. E a audiência daquele dia que você
mudou tudo vai ter ser anulada pela média dos outros 89 dias do trimestre.
Rádio é hábito por uma característica do veículo, ou
porque as pessoas responsáveis pela programação radiofônica não sabem de
imediato o retorno de audiência daquela decisão?
O pior de tudo é que o Ibope e sua pesquisa anacrônica
balizam as operações de compra e venda de comerciais das emissoras. Resultado,
é melhor o conservadorismo e a mediocridade. Aproveitando os 100 anos da
Revolução Russa, vamos recorrer à utopia advinda dela. Emissoras, uni-vos para
que o Ibope faça uma pesquisa mais condizente com a realidade frenética que
nossos tempos exigem.
Muito bom!
ResponderExcluirExcelente análise!
ResponderExcluir