Na minha careira fui chefiado em apenas uma oportunidade
por alguém mais jovem do que eu. Uma pessoa excepcional, tínhamos praticamente o mesmo tempo de experiência. Houve
um processo sucessório, como chefia é cargo de confiança, a pessoa que decidia
quem teria o cargo escolheu-a. Ela tinha todos os méritos. Foi fácil ser
chefiado por ela, que além de minha amiga antes, era uma pessoa competente,
justa e organizada.
Ouvi de um amigo uma vez: “Creso, essa profissão é para
jovens”. Concordo, mas não exatamente no sentido etário, mas sim no que você
traz na alma.
Jornalismo é uma profissão para “jovens” porque deve ter
um caráter questionador, inovador e inconformado. E isso tem menos a ver com
idade do que com entrega e espírito. Vou tomar a liberdade de reformular a
frase do meu amigo, jornalismo é uma profissão para quem tem um espírito jovem.
E por falar em juventude, Lauro Jardim revelou em sua
coluna do Globo que tem aumentado a idade média dos trabalhadores demitidos nas
empresas. O levantamento é de 2007 a 2017, no entanto de 2014 pra cá o número
só faz aumentar. Parece ser uma resposta do mercado de trabalho aos mais
velhos, pois o custo de mantê-los é mais alto.
Hoje a média de idade de alguém contratado é de aproximadamente
33 anos. E a dos demitidos está por volta dos 36 anos. Desconfio, mas não sou
estatístico, que esses números podem criar uma grande crise social. Se a
reforma da Previdência andar no Congresso, a aposentadoria vai acontecer mais
tarde. A continuar essa curva, teremos mais pessoas desempregadas por mais
tempo.
Uma das soluções para isso é o empreendedorismo e as
relações mais flexíveis no mercado de trabalho dizem os que defendem as
reformas. Haja ideias para que uma massa de pessoas sem emprego consiga ser
empreendedor. A “mão invisível” do mercado está fazendo assim: a partir de uma
determinada idade o funcionário não fica mais. Ele é mais caro e não se adapta
à “reengenharia” pela qual a empresa passará.
“Quem não tem competência, não se estabelece”, dizem os
cínicos. As empresas não buscam equilíbrio entre os mais velhos e mais novos.
Elas querem o que os administradores chamam de “última linha” da planilha.
Lucro é o Deus de nossos dias. É o tal “se estabelece”.
Em muitas oportunidades alguns erros de avaliação são
cometidos pela “falta de cabelos brancos” nas empresas. Ótimos em números,
planilhas e vocabulário em inglês, muitos desses novos gestores pecam por
desprezar o que já foi feito. Numa armadilha do destino, acabam refazendo a
trilha do erro, simplesmente porque não sabiam que aquela estrada já havia dado
em nada antes. E nisso, a “reengenharia” acaba sendo um “museu de grandes
novidades” (estou numa fase de citar cantores, agora foi Cazuza).
Cinicamente falando, a verdade é que quando seu chefe é
mais novo do que você, prepare-se: “a porta da rua é a serventia da casa”. Comece
a pensar por qual “reengenharia” sua vida vai passar, porque a da empresa que
você trabalha já começou.
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