Há 16
anos o Brasil perdia a incomparável Cassia Eller. Acho que nos últimos 40 anos,
ela está entre as três ou quatros maiores vozes surgidas no cenário musical
brasileiro. Foi no dia 29 de dezembro de 2001. Perdão por essa história não ser
numa data redonda. Eu não tinha um blog no ano passado.
Meu irmão Daniel dividia o palco com o cantor Milton Guedes num
restaurante em Ipanema chamado Gig Saldas, um lugar sensacional, daqueles que
existiam nos anos 80 no Rio. Daniel gosta de contar que uma vez a Cassia,
iniciante e tímida foi ao bar. Acho que ela e o Milton Guedes se conheciam de
Brasília. Pois bem, quando a menina tímida abriu a boca, todo mundo ficou
chocado com a força dela.
Eu fui a uma apresentação da Cassia no Jazzmania, outra casa
maravilhosa que fechou as portas. Ela ficava em cima de onde hoje funciona o
Astor. A Cassia hipnotizava qualquer um. Digo uma coisa, se você não assistiu Cassia
Eller ao vivo, ficou faltando algo importante na sua vida.
Vamos para o dia 29 de dezembro de 2001. Era plantão de fim de
ano. Eu estava escalado para o Réveillon. Pedi uma lasanha para o almoço(estava
em pleno processo de engorda), no entanto, nem comecei a comer.
Ermelinda Rita estava na minha frente e me avisou: “Creso, nem
comece, a Cassia Eller foi internada na clínica Santa Maria, em Laranjeiras”.
Eu nem dei a primeira garfada. O quadro parecia ter pouca
gravidade. Achei que iria lá e voltaria e minha lasanha nem iria esfriar.
Ledo engano. Ao chegar à clínica, me identifiquei e pedi
informações. O hospital não quis me falar nada. Olhei em volta e vi um homem
muito nervoso. Como ele não parecia ter o perfil das pessoas que aguardavam na
recepção, me dirigi e perguntei: “Você está com a Cassia”?
Ele se identificou, era Ronaldo Villas, empresário da cantora.
Muito solicito, me disse que Cassia tivera uma indisposição estomacal, tomara um
medicamento e estava no quarto. Existem dois tipos de repórter: os que gostam
de derrubar matéria e os insistentes. Sempre fui a “mala” que insistia.
Liguei para o meu chefe de reportagem, Luciano Garrido, e contei
a história. Garrido me perguntou o que eu achava. Eu respondi que a história
não me convencera. Apesar da firmeza das palavras, algo na expressão do
Villas o atormentava.
Amigos, temos que fazer todas essas análises em segundos. Não é
dramatização posterior ao fato. Garrido concordou comigo e permaneci na
pauta.
No plantão em frente à casa de saúde estávamos eu, pela CBN, Ruben Berta,
pelo Globo e Taciana Andrade, pela TV Globo.
Tudo transcorria numa estranha calmaria, no entanto, uma mulher
que esperava na recepção do hospital irrompeu num ataque de fúria: “eu quero
que o hospital dê uma solução, quero visitar minha mãe no CTI e para tratar
essa Cassia Eller eles fecharam tudo”.
Incrédulo eu só repetia para ela: “CTI? CTI”? Os seguranças me
tiraram do interior da clínica. Liguei para o Luciano e contei o ocorrido.
Novamente ele perguntou minha opinião. Fiz a ressalva que o hospital não
confirmava, mas acreditava que a Cassia se encontrava em estado grave.
Entrei no ar. Foi a senha para que o público e os outros colegas
de imprensa que não estavam no hospital corressem para lá.
Depois de minha entrada no ar, o empresário da cantora veio
falar comigo e reclamou. Eu expliquei que cada um estava fazendo seu trabalho.
Ele defendendo a sua artista e eu ali para informar o público.
Villas improvisou uma entrevista coletiva. E eu perguntei se
Cassia se apresentaria dali a dois dias na praia. Ele disse que sim.
Infelizmente sua declaração não se realizou. Cassia Eller
morreu às 7 da noite daquele sábado, 29 de dezembro de 2001.
Acho que a grande lição que tirei deste episódio é que
jornalista deve confiar na sua intuição e não desistir no primeiro não. Como
escreveu uma vez mestre Geneton Moraes Neto, a gente deve ter sempre em mente a
seguinte pergunta: por que esse cara está mentindo para mim? Repórter
deve ter como mantra: não há pergunta errada, errado é voltar para a redação
com dúvida.
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