A reprovação no primeiro ano do Cefet tinha sido o
maior revés que eu havia sofrido na vida. O ano de 1988 começava com o tremendo
desafio de ter que recuperar minha autoestima e restabelecer a confiança dos
meus pais no meu desempenho escolar.
No primeiro dia de aula na volta ao Cefet, eu cheguei virado, pois tinha voltado de um
fim de semana em Arraial do Cabo. Entrei na sala de óculos escuros, olhei
desinteressado para o pessoal em média dois anos mais novo do que eu.
A primeira aula era de Química. O professor se chamava Almir, um tipo
que tentava ser engraçado, mas cujo humor hoje em dia não sobreviveria dois
minutos, pois usava de piadas sexistas. Ainda bem que mudamos todos...
O professor Almir perguntou: um exemplo de combustão? E o idiota repetente
quis fazer gracinha e respondeu “Fafá de Belém”. Nunca estreei tão mal em um
ambiente como naquele dia em abril de 88, mas estávamos nos anos 80 e na
adolescência a gente erra para tentar consertar depois.
Acho que a primeira pessoa a se aproximar de mim na turma de “pirralhos”
foi o Cristian. Aliás, se aproximou para não mais se afastar.
No começo eu falava mais com a galera que tinha sido da minha turma
anterior, no entanto, o convívio se impôs e eu passei a andar com os calouros.
Aliás, o Cefet tinha uma classificação para cidadãos como eu. Por ter repetido,
vivia uma espécie de “limbo”. Eu não era veterano, era bi-calouro.
Revisando os acontecimentos, teve uma coisa boa no fato de ter repetido
o ano. Pessoas maravilhosas entraram na minha vida para não mais sair.
Tínhamos aulas de laboratório em canteiros de obras. Passávamos pela
carpintaria, elétrica, hidráulica e outras partes que as três décadas de
distância me fizeram esquecer. Como as turmas eram divididas por ordem
alfabética, fiquei com Cristian, Cristiana e Cristiane. Os três excelentes
alunos, jeitosos e safos. Eu, desesperadamente, desajeitado.
Era um tal das minhas paredes ficarem tortas, dos meus circuitos
elétricos não acenderem as lâmpadas que sem a ajuda deles a coisa iria ficar
feia.
Engraçado, nenhum de nós acabou trabalhando com Construção Civil.
Cristian virou defensor público, Cristiana até se formou em engenharia, mas fez
carreira num grande banco e hoje tem uma empresa de intercâmbios. Já a Cristiane
se tornou artista plástica e mora fora do país.
Outras quatro pessoas muito importantes na minha vida entraram em cena
nessa época. Márcio, Gisele, Flávio e Martha. Os dois últimos não eram da nossa
turma.
Hoje vou destacar um deles. Um dos irmãos que o Cefet me proporcionou. O
Márcio se tornou o companheiro de todas as horas. Passados quase 30 anos, tornei-me
padrinho de casamento, afilhado de casamento e compadre dele. Temos o
temperamento absolutamente diferente. Eu sou rubro-negro, ele vascaíno. Eu falo
pelos cotovelos, ele fala o necessário. Acho que nossa amizade foi forjada nas
diferenças, eu por gostar de falar e ele por gostar de ouvir.
Ele foi aquele amigo dos papos sobre o futuro, de dizer o que sonhava,
com quem sonhava e o queria sonhar. Fomos ombro um do outro em varias situações
em nossas vidas. Ele é uma das primeiras pessoas que ligo para contar as
novidades. Márcio é um amigo com que conto nas mortes e nos nascimentos que
enfrento pela vida. Uma vez a gente estava andando na Lagoa e eu tive a
ideia de andar num pedalinho. Marcio olhou desconfiado, mas falou vamos. A
única exigência foi que a gente não pegasse um com o formato de cisne. Talvez
fosse melhor ter encarado o “mico” de usar o pedalinho com o formato da ave.
Meu pedalinho quebrou, se o Marcio não fosse um cara bem forte, ficaríamos à
deriva. Por falar em aventuras na água, com o Márcio reatei minha relação com o
mar. Inspirado por ele, remei em canoa havaiana e superei alguns medos.
No terceiro ano do Cefet entraram mais pessoas na família. Paulinho,
Shiniti, Murdoco, Emilio, Léo, Peixe, Tell e o time ficou completo.
Tenho um orgulho danado de poder contar com essas pessoas há tanto
tempo. Tenho histórias especiais com todas elas. A vantagem de ter um blog, é
que posso escrever sobre todo mundo. Posso reconhecer aqui o quanto eles são
importantes para mim.
Desejo a vocês amigos tão especiais quanto os que eu tenho. Volta e
meia, na vida deste blog, eles vão voltar como protagonistas ou observadores.
Eles fazem parte da minha rotina. Com a ajuda das suas palavras, seus conselhos
e suas discordâncias vou tecendo a trama da vida.
Mt bom
ResponderExcluirSugiro escrever mais sobre aquela época
Obrigado Renato. Vou escrever. Um abraço. Mas vamos escrever sobre o agora. Nossos filhos e aquele churrascão em Búzios. Abs
ExcluirCreso sua pródiga memória contribui em muito para a minha que é falha. É mesmo impressionante que longe quase 30 anos ainda mantengamos contrato. Obrigado pela sua amizade.
ResponderExcluirTemáticas sugeridas enroladinho, Quinta da Boa Vista, Itaipuaçu, Maricá, etc