Fiquei em dúvida se deveria escrever sobre o tema que vou
tratar no texto de hoje. Não quero consagrar este espaço como um fórum de
tretas. Sinceramente, acredito que opiniões contrárias devem conviver. Quem me
conhece há muito tempo sabe minhas opiniões políticas. Por ter trabalhado num
veículo de comunicação em que a isenção era necessária, adquiri o costume de
tentar ser discreto neste Fla-Flu que as discussões políticas se transformaram
no país.
Após esse parágrafo de apresentação, vamos às reflexões:
a justiça estabelece que um condenado ao ser transferido entre unidades
prisionais seja algemado nas pernas e nos braços? Se estabelece, não é ilegal que
Sergio Cabral tenha recebido este tratamento.
Acredito que Sergio Cabral seja o maior criminoso da
história do Rio de Janeiro. De sua negociata gigante no Palácio Guanabara saiu a bomba tóxica que
corroeu todos os setores da administração estadual. Acho que ele deve ficar
preso por muito tempo, sem regalias e sem privilégios. No entanto, fiquei
contrariado com a cena dele com punhos e tornozelos algemados. Pareceu-me “justiçamento”.
Não basta prender, tem que humilhar.
O ódio a Sergio Cabral é compreensível. Os servidores
estaduais sofrem com os crimes hediondos praticados por este cidadão, mas as
pessoas podem odiar. O Estado não. A Polícia Federal é do Estado. Para alguns
vai ser duro ler essa frase, mas a verdade é que agradando-nos ou não, o Estado
é responsável pela integridade física e moral de um preso. Cadeia não pode ser
depósito humano.
Outra decisão judicial que me fez refletir foi a
apreensão do passaporte de Lula. A pergunta que faço é a mesma. A justiça estabelece
que um preso condenado em segunda instância tenha o passaporte apreendido? Se estabelece, não há ilegalidade na decisão do juiz do DF que deu a ordem.
A partir daí, peço a atenção do leitor para alguns pontos. Lula deu uma
entrevista logo após a condenação dizendo que seria candidato à Presidência e
que lutaria para isso. Desde que começou o processo ele nega peremptoriamente
os crimes dos quais foi acusado e condenado. Pedir asilo no exterior seria
quase uma confissão de culpa.
Ao ex-presidente resta apenas uma arma. Sua alta intenção
de votos para aproxima eleição. A única chance que tem de escapar da cadeia é
fazer a campanha, ser eleito e tentar reverter a decisão no Supremo.
Pode-se acusar Lula de várias coisas, menos de burro.
Fugir do país quando jura por tudo que é mais sagrado a inocência é burrice.
Apreender o passaporte de Lula para que ele não peça
asilo na Etiópia parece uma medida extrema. Uma forma de “justiçamento”, que na
essência se encontra com as algemas de Cabral.
O magistrado que mandou apreender o passaporte de Lula
deu mais munição para a defesa do petista, que vai insistir na tese de
perseguição política.
A medida parece ter sido tomada com a sutileza de um
elefante fazendo compras numa loja de louças finas. Foi tão inábil que o
relator do processo que condenou Lula disse que a decisão foi despropositada.
A questão é que vivemos tempos com as luzes do discernimento
apagadas. Esse cantinho está tentando ser uma vela. Você que leu e ficou com
raiva, não sopre a vela. Lembre-se, não lhe considero inimigo por ter opinião diferente
da minha.
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