Há mais de dez anos ouvi a frase na visita a uma dentista. Ela disse que
deveríamos pensar cuidadosamente no que nossos filhos comem, já que modificar
hábitos alimentares é mais difícil do que parar de fumar.
Meus filhos não são gordos. É só se manterão assim se tiverem um exemplo
próximo para seguir. Transmite-se ao filhos o que é bom e o que é ruim. Eles
escolherão por afinidade ou repulsa o que vão imitar. Mas a danada da comida em
excesso não é recriminada como o cigarro e a bebida.
Se o filho de 14 anos toma um copo de cerveja ou põe um cigarro na boca,
certamente haverá algum tipo de repreensão. Mas se comer demais no rodízio,
brinca-se, diz-se que é um “fenômeno”, que comer faz bem, ruim seria se não comesse.
Aliás, levar os filhos a um rodízio já é uma heresia.
Comer em excesso é tão ruim quanto não comer. A explicação é óbvia. São
dois extremos e extremos são excessos.
Dentre os inúmeros padrões de comportamento que tenho andado preocupado
em transmitir para os meus filhos é o da alimentação. Sou exemplo muito ruim
neste campo, infelizmente.
Sentar à mesa numa churrascaria para mim traz alegrias e angústias quase
na mesma proporção. Primeiro, o privilégio de ter comida no prato. Esquecer-se
que há milhões de pessoas que não têm esse direito básico obscurece a vida.
Meus delírios alimentares só aumentam naquela profusão de costelinhas, cupins,
picanhas, linguiças e etc.
Com meia hora de “jogo” começa a fase da angústia. A carne vem, sei que
não devo comer, mas continuo. Ao fim do “primeiro tempo”, já comi mais carne do
que qualquer comensal.
Qual seria a melhor opção? Pedir “pra sair”, dar um tempo, reconhecer o
excesso. Eu consigo resistir à primeira, à segunda, à terceira rodada de
espetos, mas aí vem o garçom com a costela de boi no carrinho... Não tem jeito,
recomeço a sanha frenética. Nunca termina bem. Engordar faz com que meu
fôlego diminua e minha lombar fique sobrecarregada.
Acabo de encerrar uma bateria de 20 sessões de fisioterapia por causa da
sobrecarga na minha coluna. Então essa questão de comer o necessário está
deixando de ser uma necessidade utópica. Na prática, preciso fazer algo.
Não bebo, não fumo, mas como muito. Preciso encontrar em mim a fronteira
do que é fome e do que é gula. A frase que se ouvia na quinta série
“comer muito não significa comer bem” saiu dos livros escolares e se
materializa nas taxas sanguíneas de um homem que caminha para a meia idade.
Talvez comer em excesso esteja ligado ao desenfreado consumo de nossos dias. Compramos muitos sapatos, muitas calças e muitos carros. Comemos muitos bifes...
Acho que meu ciclo em churrascarias acabou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário