Bendito
seja o Spotfy. Por intermédio do meu celular, o radinho de pilha da pós-modernidade,
estou ouvindo diariamente o disco Seduzir, do Djavan. Esse disco tem varias
musicas que formaram meu gosto musical como Faltando Um Pedaço, A Ilha e a
própria Seduzir, que dá nome ao disco.
Eu tinha 10 anos, mas como temporão, meus irmãos mais velhos,
Davi e Daniel, faziam minha cabeça com discos do Milton Nascimento, Caetano
Veloso, Belchior e a nata da MPB. Seis anos mais novo que o David, Daniel ouvia
também umas bandas internacionais. Ele me apresentou ao Pink Floyd, Yes e
Police. No entanto, acho que o primeiro disco que eu aprendi todas as músicas foi
Seduzir. Portanto, antes do Rock Brasil invadir minha alma, o que fazia minha
cabeça era mesmo Djavan.
Lembro que uma vez fui cantar num karaokê. No auge da pretensão,
me dirigi ao pessoal e pedi para cantar Samurai, do disco Luz, lançado um ano
depois. Os músicos se entreolharam e duvidaram. No fim, eles disseram que foi
direitinho. Que bom!
Adorava cantar Meu Bem Querer com meu irmão Daniel. É bom que se
diga, ele é um cantor profissional. Eu sou cantor de banheiro, mesmo assim ele
se dignava a fazer a segunda voz enquanto eu mantinha a melodia original. O que
a gente não faz pelos irmãos.
Daniel é tenor como eu, mas o Davi é baixo. Eu sou um leigo
metido à besta, mas só para explicar: baixo é a voz masculina mais grave. Não
conseguia cantar uma música com o David. O tom era completamente diferente do
meu.
Djavan me aproximava do Daniel, que em algum momento da
juventude, tinha o cabelo parecido com o do cantor alagoano. Hoje a cabeleira
do Daniel não é mais tão vasta... Nem a minha.
Adorei ver Djavan cantando no especial do Roberto Carlos. A
sofisticação melódica dele continua sendo um desafio para quem ousa tocar e
cantar suas músicas.
Djavan também é responsável pelas frases mais bonitas e
incompreensíveis da música popular brasileira. Acho que a mais clássica é: “Açaí,
guardiã, zum de besouro, um ímã, branca é a tez da manhã”.
Minha filha tem mais ou menos a idade que eu tinha na época do
lançamento de Seduzir (ela está com 12 anos). Os tempos são outros. Ela não
precisou de mim para fazer sua cabeça musicalmente. Clara Maria curte Rita Lee,
Lulu Santos e até Novos Baianos, mas mistura tudo isso com Anitta e Pabblo
Vitar. Os de hoje são artistas de muita atitude, em que a força está na forma
direta da comunicação. Nossos tempos dispensam metáforas. Aliás, elas são até
indesejáveis. Gastam tempo e banda no plano de Internet.
Eu tinha a idade dela nos anos 1980, com disco de vinil,
telefone analógico de discagem, que demorava um ano para dar linha. Algo
parecido com celular, só no desenho dos Jetsons. Ela tem smartphone e banda
larga. O inglês é uma segunda língua e o mundo está ao alcance de um “touch”.
Não vai perder muito tempo com elucubrações do tipo “eu não sei se vem de Deus
do céu ficar azul”. A pegada é mais “nocauteou, me tonteou”.
Cada um na sua, com a playlist que mais agradar. Nem pior, nem
melhor. O importante é sentir que “Amar é perder o tom nas comas da Ilusão,
revelar todo sentido”.
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