A
conversa de Cristiane Brasil com os assessores na campanha de 2014 desnuda a
relação de alguns secretários com os funcionários de seus gabinetes. Muito se
fala e pouco se prova, é verdade. Mas já houve casos em que parte dos
vencimentos dos assessores foi para o partido ou para o próprio parlamentar. Se
isso for levado a fundo, muito mais coisa vai aparecer. Na Alerj, por exemplo,
já houve episódios de nepotismo cruzado. Um parlamentar emprega um parente de
outro nobre parlamentar, que acaba lhe retribuindo o favor.
A julgar pelas falas da filha de Bob Jeff, ela precisa
urgentemente de um curso de oratória. Ou pelo menos conversar com algum
assessor de imprensa. Procurar um profissional competente seria útil para muitas
coisas. Ela não gravaria aquele depoimento pavoroso da semana passada, por
exemplo.
Aliás, vemos que a necessidade de assessoria vem de longe. Ela
tem que saber que conversas como a que teve em 2014 com assessores são um convite
ao vazamento. Ter esse tipo de papo com a equipe é de uma imprudência limítrofe
à burrice.
A indicada para o Ministério do Trabalho disse em 2014 que a
única forma de manter o emprego dos assessores era se eleger. Na minha opinião, a
fala soa menos como ameaça e mais como
tática idiota de motivação.
Cristiane fez como um gestor de instituição privada que se
dirige à equipe e diz: “se a empresa fechar, vocês vão perder os empregos.
Então, trabalhem sem aumento e sem hora extra”.
O problema é que Cristiane Brasil usou essa lógica tosca com
dinheiro público. Os assessores foram contratados para um serviço público, não
para um projeto particular.
Gravada
in natura, Cristiane Brasil mostra a lógica perversa da política, ao dizer que
no meio só tem valor quem tem mandato. E nessa ciranda de apadrinhamentos e
negociações, técnicos são deixados de lado em cargos públicos, aumentando a
ineficiência da máquina estatal.
A deputada foi vítima de um fogo amigo. Aliás, ao que parece, ela
não conseguiu blindar seu caminho contra esse tipo de golpe. Não pagou direitos
trabalhistas a funcionários e fez uma reunião de trabalho que foi quase um
assédio coletivo. Esses casos também põem em dúvida sua capacidade de gerir pessoas. Pois os casos nasceram de relações de trabalho mal resolvidas.
No entanto, a deputada tem mais um esqueleto para explicar. Sua
votação expressiva em Cavalcanti. Segundo denúncias, ela teria “comprado”
de traficantes a exclusividade para fazer campanha eleitoral.
Em 2005, Roberto Jefferson decidiu colocar farofa no ventilador
e entregou o mensalão. Quem sabe sua filha não seja a ponta de lança para
desvendar essas obscuras relações entre políticos e os “donos” de alguns
currais no Rio de Janeiro?
Talvez nunca se prove nada contra Cristiane Brasil, mas seria
interessante se a polícia investigasse os mapas de votação em outras áreas
dominadas por traficantes e milicianos. Possivelmente encontraríamos casos
semelhantes ao da deputada.
Qual a contrapartida é oferecida por estes políticos depois de eleitos?
No cinema a gente já viu que é proteção e vista grossa. E na vida real?
Minha
dúvida é a seguinte: Michel Temer não desistiu de Cristiane para o Ministério
do Trabalho pra marcar posição contra o judiciário, ou por ser refém de Roberto
Jefferson? Talvez pelos dois motivos. Que governo com vocação para se
meter em crise!
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