A Paraíso do Tuiuti fez um carnaval corajoso. Não é
fácil falar de escravidão, exclusão e desigualdade num país em que um dos
principais candidatos à Presidência diz que em seu eventual governo os índios
não ganharão mais um centímetro de terra.
A escola de São Cristóvão foi explícita. Estou tentando lembrar nos
últimos 30 anos alguma agremiação que tenha sido tão direta numa crítica ao
presidente da República. A Tuiuti entendeu que nos nossos tempos é melhor tomar
posição, não cair no discurso fácil de que o país está melhorando.
Nos 130 anos da Lei Áurea o que se encontra é um país em que as pessoas
presas e a população nas áreas mais pobres são predominantemente negras. O negro
estuda menos, ganha menos, apanha mais e morre mais cedo. Numa festa que
embranqueceu, a Tuiuti resolveu incomodar. Dificilmente a escola ganhará o
carnaval, mas o recado do “vampiro” no último carro foi dado.
A Mangueira, tida no mundo do samba como “madrinha” da Tuiuti, também
foi direta. Desta vez contra o prefeito. Gente muito mais gabaritada para falar
de carnaval disse que o desfile da Mangueira foi épico.
A Estação Primeira atacou o prefeito mais odiado dos últimos 30 anos:
“pecado é não brincar o carnaval”. A Liesa é uma entidade política, que sempre
soube contemporizar externamente e entre os seus, vide a virada de mesa do ano
passado. Não sei se a crítica tão explícita ao prefeito, que mal ou bem ainda
dá algum dinheiro aos desfiles, será premiada.
Além disso, a Mangueira terá que contar com a boa vontade dos jurados. A ala de foliões vestidos cada qual com um figurino, para representar os blocos da
cidade pode ser original, mas tem chance de provocar perda de pontos importantes no quesito
fantasia.
Achei o protesto da Mangueira necessário, mas movido por certo
corporativismo, pela mágoa com um prefeito que deu a entender que continuaria
apoiando o carnaval. A Liesa caiu no conto do vigário, ou melhor, do bispo.
Desde o segundo mês de administração, Marcelo Crivella mostrou que não teria
boa vontade com os desfiles. O enredo da Tuiuti foi mais abrangente do que o da
“madrinha” neste aspecto.
Quero fazer uma menção à São Clemente. Ao lembrar os 200 anos da Escola
de Belas artes, trouxe uma alegoria que mostrava o prédio da EBA chamuscado
pelo incêndio que o atingiu.
Dois anos depois do acidente nada foi feito. É uma prova de como
tratamos a cultura no país. A corte luso-brasileira entendia a importância da
arte e da necessidade de subvenção para realiza-la. Já o Governo Federal vive
minando o ensino público superior e sucateando as universidades. Sofre a Escola
de Belas Artes da UFRJ, mas sofre sobretudo o Brasil. Temos um governo que não
estimula a pesquisa e promove uma fuga de cérebros do país.
E ainda tem gente que não quer participar do carnaval porque é uma festa
pagã com gente bonita desnuda na avenida e nos blocos...
Pecado é não pensar no carnaval.
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