A avaliação das outras pessoas sobre o seu trabalho é um mistério. Você
pode se dedicar, achar que está fazendo o seu melhor, mas a opinião externa
viabiliza ou atrapalha a caminhada.
Apresentar um programa de rádio eleva a exposição, e consequentemente a
avaliação, a um grau que fica difícil explicar para quem não é do meio. Um exemplo. As vezes em que substituí Roberto Canazio, no Manhã da Globo, falava com 300
mil ouvintes por minuto na emissora.
Erros e acertos na condução do programa se amplificavam. Em algumas
oportunidades, pessoas que eu nem sabia que acompanhavam a Rádio Globo vinham
comentar algo que ouviram, para dar suas impressões positivas ou negativas.
Antigamente, a interatividade era pelo telefone e pelas cartas. A
emissora ainda recebia cartas há 6 meses. O teor das mensagens era diverso. Chegavam
pedidos de emprego, ajuda para localizar alguém, busca por prêmios, ou
simplesmente, o desejo de receber um “alô” do apresentador preferido durante
uma transmissão.
As redes sociais diminuíram a distância entre público e apresentador.
Logo, as opiniões passaram a “voar”. Um bom caminho para você conquistar
“haters” é apresentar um programa de rádio.
Na experiência de 9 meses como titular de um programa, experimentei as
delícias e as agruras de entrar na casa das pessoas. É o seguinte: tem que
estar com a cabeça boa. Nem “subir no salto” com os elogios, ou se abater com
as críticas.
Existe também uma das missões mais inglórias do Rádio: substituir as
pessoas no ar. Rádio cria hábito e alterar essa rotina é bem complicado. Quando
você substitui o titular por causa das férias, ainda rola uma paciência do ouvinte. O
problema é quando você entra no lugar de alguém que deixou a emissora ou teve o
horário trocado.
Eu já vivi os dois tipos de experiências. Numa das mudanças de
programação da Rádio Globo, tive que ir para o microfone substituir
temporariamente um colega que estava
trocando de horário.
Ao sair do programa recebi uma mensagem inbox bem sucinta: “não gosto de
você”. Disse à senhora que ela tinha o direito de nutrir por mim qualquer
sentimento. Aí ela voltou à carga: “não gosto de você, não precisa tentar ser
simpático, na verdade eu te odeio”. Repeti que ela tinha o direito de ter
qualquer opinião. Ela me xingou. Eu repliquei e disse que ela só não tinha o
direito de ser mal educada e a bloqueei.
Em outra oportunidade, recebi uma mensagem mais serena. Uma senhora me
disse que estava gostando do programa que eu apresentava, mas uma coisa a
incomodava: eu não estava deixando os entrevistados acabarem as respostas. Eu
falava em cima deles. Ela me deu dois exemplos com nomes e momentos em que
cometi o erro. Abri o arquivo de áudio das entrevistas, constatei o
acerto das críticas e me esforcei para corrigir essa falha.
A vida é assim. A crítica é inevitável. No entanto, há algumas que são
feitas carinhosamente com o intuito de ajudar. Outras querem apenas destruir e
fazer mal. Não há comportamentos definitivos. A pessoa que fez uma crítica
destrutiva a você pode ser a que avalia e ajuda outro apresentador. Tudo
depende da empatia.
Na verdade, é uma boa reflexão para nós mesmos. Quando damos uma
opinião, queremos melhorar ou destruir a pessoa? Queremos que processos,
relacionamentos e situações melhorem? Ou queremos Praticar o tóxico erro de falar mal de forma inconsequente?
Neste mundo em que a opinião é artigo em abundância, talvez seja a hora
de pensar qual o efeito da sua palavra terá sobre determinada pessoa ou
episódio.
Somos uma versão no meio do caminho entre o que achamos de nós e a forma
como os outros nos veem. Nem super-heróis, nem vilões. Somos aquelas pessoas
que tentam acertar, mas que pela imperfeição da vida erramos. Um empate de
erros e acertos já pode ser considerado uma grande vitória.
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