Todo dia quando começo a escrever o texto não sei bem onde posso parar. Tenho em mente um tamanho e uma pauta. Sei que não devo passar um determinado número de linhas para não tornar o texto chato, ou tomar um tempo que fará o leitor desistir no meio da história.
Herdei isso do tempo em que trabalhei em rádio. Há pouco tempo e muita informação. O profissional de rádio aprende a editar quase instintivamente. E como já escrevi uma vez, editar é escolher e toda escolha implica numa perda. Editar é perder alguma coisa que deve fazer pouca falta ao produto.
A vida é feita de edições. Editamos as memórias, pois se lembrássemos de tudo, o “HD” encheria rápido demais.
Em algum momento lá atrás aprendi que quando a gente caminha e olha a “raia” em que a outra pessoa está, acaba perdendo a rota para continuar na pista.
Por falar em raia, me lembrei de uma época pré-histórica. Eu já fui jovem e integrei a equipe de atletismo do Cefet. Tem mais, em algumas competições, o querido treinador Ernâni me colocava fechando o revezamento 4x100m.
Quem me vê hoje dúvida um pouco disso, mas paciência, o fato é que eu corria e bem. O último homem do revezamento pega o bastão em curva. É isso pode ajudar ou atrapalhar. Dependendo da raia em que o corredor estiver, pode se achar com uma vantagem inexistente.
Há uma segunda ilusão para quem não correu 100m: a distância é muito pequena. Na verdade não é. Logo, há uma estratégia, não adianta você acelerar. Você deve treinar a corrida para que seu auge esteja por volta do último quarto da distância. Ali pelos 70 metros você deve atingir a aceleração máxima e manter.
O corredor sem estratégia sai a toda velocidade, não consegue manter e é ultrapassado. Fui um corredor razoável, mas não cheguei a me federar.
Acho que me adaptei ao rádio por ser um corredor de 100 metros. É necessário ter explosão e ser rápido. O único problema é que na vida você deve adotar o ritmo de um maratonista. Paciente, mantendo os competidores numa distância. Que possibilite a reação.
O corredor de 100 metros que resolver tudo rápido. O maratonista tem uma distância maior até a linha de chegada. Tem que ir correndo e fazendo escolhas, que hora deve apertar o passo, quando deve manter a cadência, ou ainda o momento da hidratação.
O maratonista que completa a prova é um bom editor. Consegue fazer as escolhas certas para o seu objetivo.
O maratonista e o bom editor sabem onde começa e onde termina o caminho. Eles sabem onde o texto começa e onde vai parar.
Como sou um corredor de 100 metros, sei onde é a largada. Quero chegar o mais rápido possível em algum lugar para trocar de prova. Às vezes encontro dificuldade de entender que viver é uma grande maratona, adotar o ritmo de velocista pode fazer a linha de chegada ficar mais distante.
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