Rua
Alagoinhas 33, Salvador. Se você tem alguma pretensão de trabalhar escrevendo,
esse endereço deveria ser uma espécie de visita a Jerusalém ou a Meca.
Nesse endereço sentaram pouso Jorge Amado, Zélia Gattai, sapos e
centenas de personagens que saíram da lavra dos dois.
O ambiente é tão bem preservado que parece que Jorge e Zélia são
os guias na visita. De todas as coisas maravilhosas do lugar, o destaque para
mim é o quarto do casal. Além de apetrechos pessoais em cima da penteadeira, há
um efeito místico provocado pelas projeções de varias imagens na cama do
casal.
As roupas expostas de Jorge e Zélia reforçam a sensação que os
donos ainda estão por ali. Vagam perto da velha máquina de escrever, da velha
televisão de válvula, nas malas que usaram para percorrer o mundo, nas panelas
e nas obras de arte.
As correspondências de Jorge para Zélia estão expostas numa sala.
A narração de trechos das cartas transporta os visitantes. Jorge fala com
carinho da mãe e dos filhos, se declara à Zélia, reclama do andamento da obra
para conclusão da casa do Rio Vermelho e faz comentários sobre os livros que
está escrevendo. A casa onde morou Jorge Amado exala o cheiro típico da
culinária de seus livros e o sincretismo que só quem foi à Bahia é capaz de
entender.
A casa da Rua Alagoinhas 33 mostra também como Jorge Amado e
Zélia Gattai cultivavam amigos. Há objetos de vários lugares do mundo, presente
de escritores, políticos, intelectuais, artistas de todos os matizes, idades e
credos. Jorge bebia da fonte de tantas amizades. Cada palavra trocada poderia
servir para acender uma chama em galhos que, porventura, estivessem secos.
Saí da casa de Jorge Amado querendo emular aquela vida. Viver de
escrever e fazer amigos. Ele era um trabalhador. É impressionante como sua obra
é extensa. Entre o meio dos anos 1930 e o meio dos anos 1940, ele publicou a
média de um livro por ano.
Peno para escrever um texto diário, imagina mergulhar no
universo de tantas pessoas pra criar um romance. Jorge Amado era um
privilegiado. Seu grande amigo Dorival Caymmi imprimia muito mais cadência em
sua produção musical. Dorival fazia tudo com mais vagar, mas não deixava de ser
genial também.
Você já foi à Bahia? Não? Então vá. Conheça a Casa do Rio Vermelho
e fique impactado com toda a magia e o misticismo que emanam da casa de Jorge
Amado e Zélia Gattai.
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