Conversava com meu amigo e mestre Giovanni Faria
sobre a vida. Aliás, conversar com Gio rende sempre boas histórias. Ele
trabalhou 17 anos no Jornal O Globo e me contava que no momento do fechamento
do jornal, o ritmo frenético provocava coisas inimagináveis: “uma vez um dos
melhores redatores com quem trabalhei gritou: ‘mexer é com “x” ou com ch?’”
A pergunta não foi fruto de ignorância ou desinteligência, a questão é que
submetidos a situações estressantes, as dúvidas que pareciam as mais
elementares transformam-se num monstrengo. O grito do redator era um pedido de
ajuda.
Acho que todos nós temos que saber o momento certo de pedir ajuda. O
orgulho, a insegurança ou medo de parecer imperfeitos tira-nos o recurso de
pedir socorro. A dúvida do redator era relativamente fácil de ser resolvida.
Mas há outras mais complexas e nos recusamos a tentar o auxílio de alguém mais
experiente.
Talvez o mundo esteja barulhento pelos motivos errados. O subir o tom de
voz na hora de pedir auxílio deveria ser uma prática cotidiana. Mas a gente
grita mais por ordens, divergências e ódios, não para pedir ajuda.
Muitas vezes sentimos que os celulares, extensões de nossas mãos e de
nossos cérebros, nos retirarão do “vale da sobra das dúvidas e das angústias”.
No entanto, por mais memória e brilho que eles tenham, não devem substituir o
olhar no olho e o toque das mãos em outras mãos.
Da mesma forma que não gritamos para pedir ajuda, não falamos com os
outros para demonstrar afeto. Chega-se ao ponto de pegar carona e não conversar
com a pessoa do lado, coloca-se um fone no ouvido e deixa-se o que
classicamente era definido como convívio fora das experiências
cotidianas.
Numa boa, a gente tem que gritar mais. Olhar mais nos olhos, ter mais
dúvidas. Não se conformar com a distância das pessoas queridas. Quando os
ambientes estiverem silenciosos, seja você o agente da desordem. Converse, puxe
assunto. Ligue para seus amigos. Marque um chopp. É difícil, nossos tempos são
opressores quando o assunto é agenda. A vida é mais do que a tela do celular.
Claro, o conselho do barulho só não vale quando você estiver numa biblioteca.
Barulhe-se sempre que possível!
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