Depois de publicamente humilhado, o governo partiu para o campo das ameaças. As medidas são graves. Abrir a porta para que integrantes das forças armadas desobstruam as estradas na “marra” parece uma solução extrema, de quem perdeu a cabeça na negociação.
E segue o cortejo para a corroborar ainda mais o discurso da ordem que vai dominar a campanha política deste ano. Quem conseguir pegar essa onda leva uma vantagem enorme na eleição de outubro.
Depois dessa crise, mais do que nunca, o apoio de Temer a qualquer candidatura vai soar mais como “beijo da morte”, do que alavanca eleitoral.
No meio disso tudo me chamou atenção o primeiro bloco do Jornal Nacional de sexta-feira. Foram 35 minutos de cobertura intensa sobre os graves prejuízos que a manifestação dos caminhoneiros está provocando.
Entre a escalada do jornal e o começo do noticiário (para quem não está acostumado com os jargões jornalísticos, escalada é aquela parte em que eles anunciam os destaques da edição) entrou uma propaganda criticando a greve e dizendo que o Governo Federal não hesitará em usar sua autoridade.
Depois disso, toda narrativa foi a das trágicas consequências provocadas pela greve. Muita posição do governo, de especialistas e pouco dos caminhoneiros. O comando da greve só apareceu em forma de uma nota em que conclamava a categoria a voltar ao trabalho. No mais, os poucos caminhoneiros que falaram foram na rua, sem o verniz de “representação” que os sindicatos conferem ao ato.
Houve ainda a construção de uma matéria sobre uma “impressão do Governo Federal” que a greve era comandada pelos patrões. Colocaram um vídeo do prefeito de Betim defendendo o movimento. E ainda fizeram uma ressalva: “seria apenas uma declaração política, se o prefeito não fosse empresário do ramo de transportes”.
A “impressão” do governo, mais a declaração do prefeito de Betim, somado a uma sonora com um caminhoneiro dizendo que recebeu a ordem de não furar o bloqueio até que o movimento acabasse construíram a “reportagem” sobre a participação das empresas na greve dos caminhoneiros.
A “reportagem” era uma editorial disfarçado. Eu também desconfio que os patrões estão por trás do movimento. Aliás, até já classifiquei a greve como uma guerra de facção entre os donos do dinheiro. No entanto, além de não ter o alcance do JN, meu texto é assumidamente de opinião. Em nome do bom jornalismo, “cresce a impressão no governo” deveria ser o início da apuração, não a base da matéria. Outra solução seria admitir-se um editorial, seria mais transparente como os telespectadores.
Enquanto isso, o país efetivamente sofre com a greve. Entendo quem apoia o movimento, mas realmente deveria haver algum esquema para que gêneros de primeira necessidade conseguissem chegar ao destino.
Não gostaria de estar no hospital e não poder tomar soro, ou qualquer tipo de remédio porque o insumo ficou preso na estrada.
O governo fraco não consegue se impor. Essa história de chamar os militares para resolver a incapacidade política de negociar pode parecer num ponto de vista superficial uma solução mágica, mas a longo prazo pode virar pesadelo.
E o noticiário principal só acirra os ânimos. Depois que abrirem a porta, o leão pode gostar de sentar no sofá, comer toda a comida da casa e se apossar do controle remoto da TV. Para tirar o Leão da sala pode demorar uns 21 anos.
Concordo! Governo Temer acabou! Mas os caminhoneiros não tem o direito de parar o país!
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