O trapaceiro invocado
Estávamos no começo dos anos 2000.. Eu, o repórter
cansado, procurava um entrevistado num dos camarotes da Marques de Sapucaí.
Encontro aquele dirigente esportivo articulado e realizador. Nunca o havia
entrevistado, fazia pautas de esporte esporadicamente. Era uma época em que
meus heróis ainda não tinham morrido de overdose. Via nele uma símbolo de que
um trabalho bem feito poderia transformar realidades. A tarefa era árdua,
tentar convencer o mundo olímpico que os jogos poderiam se realizar aqui. Como
alguém louco por esportes, torcia muito para que ele tivesse êxito. No entanto,
sou repórter, não sou pago para fazer perguntas favoráveis, sou pago para
questionar. Nossa mui amada cidade de São Sebastião enfrentava uma das cíclicas
crises de segurança. Inocentemente me dirigi a Carlos Artur Nuzman e perguntei,
o senhor acha que a questão da segurança poderia atrapalhar as pretensões do
Rio em ser sede dos jogos. A resposta veio ríspida: E Nova York? Ponderei
que os EUA já haviam sediado os jogos em outras oportunidades, e o Brasil não.
Mais uma resposta. E os Estados Unidos? E o 11 de setembro? Nisso, o dirigente
avançou em minha direção. Foi contido pela mulher. Ainda bem, acho que apanharia.
Nunca fui de briga e o cara foi atleta olímpico.
Desde então nutro profunda antipatia por esse
cidadão. Prepotente e dono da razão, Realmente, não gosto dele. Quando o Brasil
venceu a disputa para sediar os jogos de 2016, confesso que o admirei. A
obstinação havia possibilitado a realização do projeto de uma vida. Trazer as
olimpíadas para o Rio parecia a vitória de David contra Golias. Mesmo com quase 40 anos vibrei. Já deveria ter perdido a inocência, Mas não tenho jeito. A verdade é que as investigações da Polícia Federal indicam que obstinação,
perseverança e articulação eram sinônimos de TRAPAÇA. Os jogos vieram para o
Rio porque pagamos mais. Nossos dirigentes não foram hábeis negociadores, foram
trapaceiros mais eficientes.
Antes da face cruel ser desnudada, Nuzman era um exemplo, havia
transformado a Confederação Brasileira de Vôlei. Não é injusto dizer que é um
dos pilares das vitórias esportivas na modalidade.
No entanto pelo que percebemos foi carcomido pelo vírus corruptivo que
ataca os que ficam muito tempo nas instituições, achando-se donos delas. Como
Luis XIV disse "o estado sou eu", Nuzman pensou que era uma reedição
do Rei Sol no mundo esportivo e começou aí sua ruína. Luís XIV ficou 72 anos no
trono, Nuzman está há 22 na presidência do comitê. Ao que parece não
terá destino diferente de João Havelange, Ricardo Teixeira e outros
dirigentes que as biografias foram parar no ralo da história.
E os jogos do Rio, que embalaram o sonho de uma mudança de paradigma no
país, um elixir para aumentar nossa autoestima, mostram-se mais uma grande
negociata. Deixa-nos pessimistas. Passar a ser vistos no mundo como grandes
trapaceiros, que usaram de meios ilícitos para conquistar o privilégio de
sediar a olimpíada, é muito pior do que os 7 a 1 para a Alemanha na Copa. Dá a
impressão de que não para de acontecer gol.
E o gosto que fica é de uma ressaca de bebida doce. Aquela que fica se
perpetuando em seu organismo por horas e que deixa a cabeça do tamanho de duas
melancias juntas. O fim não justifica os meios. Não sei vencer trapaceando. A
alternativa a isso é perder a ingenuidade? Então prefiro continuar bobo.
E por falar em ingenuidade, tenho que fazer uma retificação. No post de
ontem critiquei o prefeito Marcelo Crivella por causa das mudanças de dos nomes
de rua na Maré. Na verdade o decreto foi de Eduardo Paes há 3 anos. Logo, errei. Com menos de um semana de vida já tive que
publicar uma retificação no blog.
Nessas horas, lembro de uma conversa que tive com a cantora Nana Caymmi
há mais de 20 anos. Em resumo é o seguinte: todo cantor e cantora desafinam, o
negócio é desafinar com classe. Então perdão pela desafinada, não me abandonem
por essa nota fora do lugar.
E para finalizar o pequeno ensaio de uma treta. Se em vez de evangélica,
a manifestação religiosa na Câmara de Vereadores do Rio fosse católica teria provocado algum
incômodo em você? Eu achei um absurdo porque ali é ugar de legislar, não se deve
misturar política e religião. Se fosse uma missa me incomodaria também. E a
você? Não precisa me responder, responda para si mesmo.
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