Nesses tempos de transformações no jornalismo, vou fazer
uma afirmação que pode chocar os puristas: no jornalismo você só pode “vender”
o que tem para entregar. Sei que colocar o substantivo jornalismo e o verbo
vender na mesma frase pode parecer uma heresia. No entanto, vou explicar melhor
a sentença.
Uma vez ouvi do mestre Mauro Silveira que repórter não pode
chegar na redação com dúvidas. Ele me disse isso quando perguntei em voz alta a
grafia do nome do meu entrevistado. Era uma redação de rádio no começo dos anos
2000, mas não importa, Mauro estava certo. A gente tem que se importar com os
detalhes, pois alguém já disse que o diabo mora neles.
Ser repórter às 6 horas da manhã é para fortes. Com o
horário de verão, que faz com que você acorde mais cedo ainda e no escuro, é
uma prova de resistência. Não consigo esquecer de cenas do treinamento do Bope
em Tropa de Elite. Em muitas vezes você escuta uma voz interna gritando “pede
pra sair” ou ainda “nunca serão”. Bem, sobrevivi ao curso.
Numa oportunidade fui fazer a suíte do resgate de um preso
(para quem não é jornalista, suíte é o desdobramento de uma reportagem). Dirigi-me
à Polinter, que ficava na rua Silvino Montenegro, embaixo do falecido Viaduto
da Perimetral, numa Zona Portuária pré-olímpica. Os bandidos explodiram a
parede da cadeia para resgatar um bandidão de um morro da Zona Norte, um “Sabiá”
da vida.
O intrépido repórter que vos escreve se dirigiu ao Esquadrão
Antibombas para saber como os bandidos agiram. Eles me explicaram e eu entrei
no ar: Os bandidos usaram uma granada defensiva para explodir a parede da
Polinter. Eles chegaram ao local por volta das duas da manhã...”
Fiz meu flash e fui para “social” com os coleguinhas que
estavam na matéria. Poucos minutos depois, meu chefe de reportagem, Alexandre
Caroli, me telefona. “Oi Creso, tudo bem? A entrada foi legal, mas temos um
problema”. Mesmo sendo um chefe gentil como era o Caroli, ouvir do deu chefe
que houve problemas na sua matéria. “O Agostinho (diretor da CBN)
estava ouvindo a sua entrada e perguntou o que é uma granada defensiva”. Pois
é, eu também não sabia. Resultado, tive que apurar e entrar no ar novamente
para explicar. Pelo menos descobri que uma granada defensiva explode lançando
pinos e a outra granada explode aleatoriamente. O que importa é que se uma
granada explodir ao seu lado, o resultado não vai ser bom.
Eu não sou jornalista. Mas posso dizer que "só vender o que tem para entregar" deveria valer para qualquer profissional.
ResponderExcluirNos dias de hoje o que acontece é o oposto.
As pessoas "vendem" o que não tem e o que não conhecem. Fazem e usam o que não sabem. Porque o que interessa não é vender um bom produto. É vender bem, não importa o que.
Triste...