Filha, quando as coisas ficarem difíceis, quando
você achar que estão beirando o insuportável, dance. As bailarinas flutuam.
Ainda não inventaram nada melhor do que flutuar.
Ao ver você, confirmei que no palco as bailarinas
se agigantam. Fora da ribalta, os rostos podem ficar tensos, a dor no pé, pobres
pés, pode ficar evidente. E um observador desatento às vezes confunde isso
com fragilidade.
No entanto, isso é uma armadilha para pessoas inocentes.
As bailarinas são super mulheres. No palco são uma explosão de força e técnica.
Como aguentam o peso do corpo naquelas pontas do pé.?!
Filha, no meio do espetáculo fiquei me perguntando quem era aquela
pessoa. Quando você deixou de ser aquela menina que acreditava que o achocolatado
era trazido pelo vento. Você já tinha dado pistas ao fazer questão de ir e
voltar sozinha da aula de balé. Acho que ao ver essa apresentação realizei que
a criança ficou na minha memória. Agora entendo o significado da frase: ”nossa,
está uma moça”!
É que pai precisa ver com os olhos da alma que a filha cresceu. Isso
veio de forma mágica, prestando atenção em como você corre, abre espacate,
pula, rola no chão e mantém o sorriso.
É um velho clichê, mas a bailarina vive num eterno “fio da navalha”. Tem
que transformar a respiração ofegante em recurso cênico, fazer “carão” e seguir
em frente.
Acho que a maior lição que aprendi vendo o espetáculo de dança da minha
filha é que as bailarinas transformam a dificuldade em graciosidade. Filha, tem
quem ache fácil dançar. A esses, recomendo tentar dar duas piruetas e se manter
equilibrado depois.
Toda vez que vejo você dançar me emociono. Tenho prazer em ver o prazer
que você sente ao dançar. Não conseguiria guardar um só daqueles passos,
imagine uma coreografia inteira. Balé é uma arte que une plasticidade, tenacidade e
disciplina.
Dança não é coisa de “mulherzinha”, balé é coisa de mulherão, mesmo que
ela tenha 12 anos e menos de 50 quilos. A bailarina é uma forte, é destemida e
pronta para brilhar.
As bailarinas vão nos salvar da desesperança. Pois enquanto houver
movimento, existe arte. Se existe arte, existe resistência. Se existe
resistência, existe vida.
Dos passos das bailarinas e dos bailarinos nascem os voos, os cisnes
morrem com poesia, anjos caem do paraíso para ressurgirem sedutores, amores são
coreografados e as dores superadas.
A arte do movimento é acima de tudo uma arte do corpo. Baile com o corpo
inteiro, filha. Entregue-se num solo pela vida, girando como se a lua estivesse
ao alcance das sapatilhas.
Filha, não pense que as palmas são o fim do espetáculo. Elas são o
reconhecimento que você trabalhou certo, mas depois, sempre vai ter ensaio,
bolha no pé e frio na barriga. A bailarina tem que fazer um “pas de deux” com a
vida. Pois dançar é um dueto da dor com o prazer, do medo com a superação, da
força com a sensibilidade.
Amo muito você.
Dei uma leve chorada, mas assim, nada absurdo hahahaha
ResponderExcluirQue texto lindo, Creso. Sem mais.
Um beijo, Paula. Obrigado
ExcluirParabéns, Creso! E para Clara também! Sempre quis bailar, mas meus pais não entenderam. Parabéns para vocês que apoiam e compreendem o valor da dança!
ExcluirEmocionante!
ResponderExcluirSimplesmente lindo!
ResponderExcluirQue lindo! Bacana demais!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito lindo. Plausos,👏👏👏👏Também sou mãe de bailarina
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