O ano de 1997 foi de muitas mudanças. A que teve
mais impacto na minha vida aconteceu em 28 de julho. Meu pai, o
primeiro Creso da Cruz, descansou. Onze anos na cama, uma barra pesadíssima que
ele enfrentou com galhardia. Poucos dias antes de sua morte, conversava com ele
e perguntei se sabia quem estava falando. A resposta foi desoladora. Com
muita dificuldade ele respondeu: “estou falando com o Conde do Santo Cristo”.
Fiquei arrasado e respondi: “pai, sou eu, seu filho único”. Aí, com o pouco de
energia vital que ainda restava, ele arrematou: “ué, onde fica a Rádio Tupi?” E
caiu na gargalhada. Esse era o meu pai. Sempre com uma piada, mesmo com a linha
de chegada a poucos metros.
Era a linha de chegada também na faculdade. E então surgiu uma chance
que não dava para desperdiçar. Fui chamado para cobrir férias na Rádio Globo.
Não sei de quem partiu a ideia de meu nome, se do Luciano Garrido, da Luiza
Xavier ou da Andrea Ferreira. Trabalhando na Tupi, encontrei com eles em várias
reportagens e na primeira oportunidade me chamaram. Lembro que o Luciano,
um desses irmãos que a vida coloca no caminho da gente falou: “véio, você chegou
bem chegado, corre atrás que vai dar certo”.
Em novembro de 1997 entrei na Rua do Russel 434, o endereço mais
famoso do rádio brasileiro. Ainda nem tinha me formado e conseguira um trabalho
lá. Logo no primeiro dia, tinha que gravar um destaque, Perdi o prazo e levei
uma bronca do Ricardo Rodrigues. Bem, não tive outra oportunidade para levar
bronca do Ricardo.
No fim do expediente do meu primeiro dia de trabalho, o Marcos Gomes,
coordenador na época, me deu a notícia: “Creso, a CBN está passando por alguns
problemas e numa reunião hoje ficou decidido que não haverá mais cobertura de
férias. Perdão, você não precisa nem voltar amanhã. Assim que a situação
melhorar, a gente procura você”.
Pois é, fui demitido da CBN com um dia de trabalho. Eu, que já tinha
desistido de entregar minha monografia naquele semestre, procurei meu
orientador e disse que iria me formar. A entrega era em 18 de novembro.
Estávamos no dia 3 e não havia nenhuma linha escrita.
Entraram em cena meus amigos da época do Cefet. Cristian, Márcio e o
irmão dele, Marcelo. Foi uma força-tarefa para que eu produzisse meu trabalho
que tinha como tema “Rio, do Império à República pelas crônicas de Machado de
Assis”.
Em 15 dias preparei. O esquema foi o seguinte: Eu escrevia, o Marcelo
lia, o Cristian colocava nas normas da ABNT e o Márcio imprimia.
A velha Dona Alzira, minha mãe, nos alimentava e torcia. Entreguei o trabalho que tinha “Machadado de Assis” na capa. A única coisa que
meus amigos não revisaram. Deu certo! O estudo estava resolvido, mas a
profissão...
Sem perspectivas no Rio, procurei meu amigo Marcelo Passamai, que era
jornalista e secretário de comunicação da prefeitura de Florianópolis. Já que
não tinha nada no Rio, viajaria para onde pudesse haver.
Com algumas roupas na bagagem e litros de lágrimas derramados (sou
dramático, dizem que devo ter alguma casa astral em câncer) me joguei na
aventura.
Marcelo foi extremamente acolhedor e me arrumou dois trabalhos.
Começaria na semana seguinte à minha chegada em fevereiro de 1998. Nos 7 primeiros dias de adaptação, achei Florianópolis
linda, como se fosse o Rio uns 50 anos antes.
Liguei para minha mãe na tentativa de matar a saudade e ela me deu um
recado: “uma moça chamada Luiza Xavier ligou pra cá e disse que a Radio Globo
quer que você faça um trabalho lá. Ela deixou o telefone”. Peguei o número e
liguei. Luiza me explicou que seria uma cobertura de férias e que novamente
lembraram meu nome.
Falei com o Marcelo e ele me disse: “você não tem nem o direito de ficar
em dúvida”. Uma semana depois, estava de volta ao Rio. Meus amigos nem tiveram
tempo de sentir falta. O maior drama, a maior choradeira para uma volta tão
rápida.
Em março de 1998 comecei minha relação com o Sistema Globo de Rádio.
Pelos 19 anos seguintes, entre idas e vindas, foi minha segunda casa.
Trabalhando no SGR casei, tive meus filhos, perdi minha mãe e conheci muita
gente.
Luciano, Luiza, Andrea, Ricardo, Marcos Gomes, Marcelo Passamai, Marcelo
Leite, Márcio e Cristian - a gente é produto de nossas relações com as pessoas.
Os caminhos se cruzam e se completam. Citando vocês, quero simbolizar que a
vida é um desenho feito com muitas mãos. O sonho de um tem um pedacinho da
vontade e da torcida do outro.
Já fiz esse reconhecimento pessoalmente, mas agradecer nunca é demais.
Ainda vou voltar a falar do SGR. Esse texto é um post não uma autobiografia
completa. Por isso interrompo a história por aqui.
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