Nos fins de semana de dezembro tenho me dedicado a
revisitar meus passos até aqui. Tenho a presunção de que na vulgaridade da
minha trajetória haja um elemento universal que deixe pegadas, facilitando o
caminho de quem lê. É quase como Teseu desenrolando o novelo para marcar a
saída do labirinto. Viver é assim, enfrentar o Minotauro e não perder o caminho
de casa.
Quando entrei na Escola de Comunicação da UFRJ o rock’n
roll começou a tocar alto. Fui reconhecendo no velho prédio, que anteriormente
havia abrigado um hospício, o passaporte para a louca aventura que é viver de
contar histórias.
Ao longo dos posts biográficos deixei claro que rodei bastante antes de
entrar na universidade. Ou seja, quando comecei o curso de jornalismo era em
média 5 anos mais velho que meus colegas de turma. Isso não impediu que eu
fizesse bons amigos, enchesse a cara algumas vezes e me formasse em várias
modalidades de carteado que o campus da Praia Vermelha proporciona.
Posso dizer que fiz um curso “pragmático”. Hoje me ressinto de não ter
dado tanta atenção a algumas matérias teóricas. Tive que preencher essa lacuna anos
depois numa pós-graduação e na preparação para as aulas. Acho que por esse
“pragmatismo” vou sempre ter a sensação de correr atrás das leituras
teóricas.
O fato é que trabalhei durante a faculdade toda. Na maioria das vezes em
horários pouco convencionais, já que fazia produção de shows. Esse fato me
obrigou a ir “virado” às aulas algumas vezes.
No sexto período da faculdade me vi numa encruzilhada. Trabalhava e
ganhava razoavelmente para alguém solteiro e sem muitas responsabilidades.
Estávamos nos primeiros anos do Real e havia uma paridade artificial com o
dólar. Eu conseguia ganhar algo em torno de US$ 1200. No entanto, não era meu
sonho, foi o jeito temporário de descolar alguma grana. Eu queria ser o Clark
Kent, já que não dava para ser o Superman.
Meu grande amigo e contemporâneo na ECO Carlos Gil estava saindo da
Band, pois passara na prova de estágio do Sportv. Ele me indicou para o seu lugar na
emissora de Botafogo.
Respirei fundo e comuniquei em casa que estava deixando um trabalho na
área de eventos da Fiocruz para ser estagiário na TV Bandeirantes. Havia um
pequeno problema. Meu salário que era de cerca de US$ 1200 passaria para R$
100, mais o ticket refeição.
Tenho orgulho dessa decisão, apesar dela representar a necessidade de
uma readaptação financeira que demorei a conseguir. Foram seis meses de
aprendizado na Band. De lá tirei uma grande lição: se você não for uma aposta de
quem comanda, tente ser pelo menos alguém que essa pessoa perceba.
Sem qualquer possibilidade de crescimento na empresa naquele momento e sem
chances de me tornar repórter, comecei a me virar para arrumar outro lugar.
Conversei com o jornalista Sérgio Costa, que me indicou para a Rádio Tupi. Ele
disse que a emissora da Rua do Livramento era uma ótima escola, que ele, por
exemplo, tinha começado lá. Sérgio era fera, um exemplo que eu gostaria de
seguir. Outro repórter me disse para não ir: “Creso, você já está na televisão,
quem está no rádio quer vir pra cá”.
Novamente, nadei contra a corrente só para exercitar meu sonho. Um telefonema generoso da jornalista Marília
Wolf, mulher do chefe de reportagem da Band, Hélcio Alves, facilitou minha
entrada na emissora dos Diários Associados. Aprendi na Tupi que prazer e
dinheiro podem ficar em planetas distantes. O estágio da rádio era ainda mais
mal remunerado que o da Band.
No entanto, como me diverti! A equipe era pequena. Nessa estrutura
enxuta os estagiários faziam matérias importantes. Além disso, o programa da
Cidinha Campos era de manhã. Os repórteres mais “cascudos” estavam no horário
nobre. Caio Alex, Gabriela Ferrão, Georgia Christine na rua, Ana Rodrigues na
apuração e todos sob as ordens de Roberto Feres.
De tarde, tive mais oportunidades. Ainda como estagiário, cobri os
julgamentos das chacinas da Candelária e de Vigário Geral, o julgamento da
Paula Thomáz, assassina da atriz Daniela Perez, o leilão da Vale do Rio Doce,
entre outras matérias de destaque.
Acho que a principal virtude do repórter é a paciência. A gente espera
muito, ainda mais com a desorganização de algumas fontes, que chamam para
entrevistas e se atrasam. Numa dessas esperas, a repórter Simone Fernandes, na
época, correspondente da Rádio Eldorado, emissora do grupo Estadão me disse: “Você
é bom, uma hora vai trabalhar na Rádio Globo. Espera que vai acontecer”.
Demorou um pouco, mas realmente trabalhei na Rua do Russel.
Amanhã falo desta parte da minha vida profissional. Olhando pra trás,
penso que o mérito da caminhada foi o fato de ter me jogado nos projetos, mesmo
que no momento, pudesse parecer uma desvantagem econômica.
“Talvez eu seja o último romântico”.
Creso, por estarmos em habilitações diferentes na época de faculdade (eu na Publicidade, você no jornalismo), nós não tivemos uma convivência tão próxima, o que lamento muito. Mesmo assim, quando conversava com você, uma característica sua saltava aos olhos: a capacidade de ouvir as pessoas. Lembro de ver vários colegas recorrendo a você para uma troca de ideias ou mesmo um conselho. Digo isso porque estava claro desde sempre que você seria um sucesso no jornalismo, como vai ser sucesso com este blog. Grande abraço! (E espero que, agora, a gente se esbarre mais na PUC).
ResponderExcluirGrande Michel. Obrigado. Um grande abraço.
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