Vi uma foto do Loureiro Neto na timeline de uma ouvinte que virou minha amiga no Facebook. Lembrei dele com nostalgia. Ele era um dos papos mais agradáveis fora do ar.
Também pudera, criado em Copacabana nas décadas de 50 e 60. Conhecia o
nome dos porteiros e dos garçons nas imediações da Miguel Lemos, Domingos
Ferreira e Bolívar. Sabia o melhor tira-gosto de cada um dos lugares.
Loureiro foi um boêmio, presidente de ala da Mangueira, amigo de
cantores, juízes, malandros e madames. Transformou seu “Papo de Botequim” em
parada obrigatória para quem queria ficar bem informado nas noites da década de
90 e começo dos anos 2000. O prestígio do cara era tanto, que a gente estava no
estúdio e de repente tocava o telefone. Do outro lado da linha era a Alcione ,
Martinho da Vila ou João Bosco querendo dar uma opinião sobre o assunto que
estava rolando no programa.
Loureiro dava aos produtores o telefone direto dos artistas, a produção
driblava os assessores e os caras atendiam, porque era pro Loureiro.
Loureiro era um âncora de debate que tinha uma virtude. Distribuía o
jogo, sabia rolar a bola para o debatedor também fazer gol.
Quando me apaixonei por rádio, Loureiro fazia parte da mítica equipe de
esportes da Rádio Globo com Waldir Amaral, Jorge Curi, João Saldanha, Mário
Viana e Kleber Leite. Não sai da minha memória afetiva o bordão de Jorge Curi:
“fim de papo, Kleber, Loureiro”.
Tive passagens engraçadas e outras difíceis no tempo que trabalhei com
ele. É bom corrigir uma injustiça. Loureiro Neto não foi o culpado pela saída
de Haroldo de Andrade da Rádio Globo. Haroldo se desgastou com a diretoria, brigou
e foi demitido. Loureiro foi convocado para assumir o horário. Muita gente
leviana, que não sabe o que ocorreu, o acusava de ter “cavado” a saída de
Haroldo. Esse assunto chateou o Loureiro até o final da vida.
Uma dos episódios chatos foi a vez que me reuni com ele para desenhar a
volta do Papo de Botequim para o horário noturno. Ele já não estava bem de
saúde e a emissora tomou a difícil decisão de tirá-lo do horário matutino.
Mesmo visivelmente abatido com a situação, Loureiro foi profissional e se
entregou à missão que lhe foi dada.
Nesse dia, ao perceber meu constrangimento, Loureiro disse que me
entendia. Era uma decisão profissional que eu tinha que cumprir. Aí, ele me
contou como foi difícil dizer ao grande Waldir Amaral que ele não tinha
condições de continuar narrando. Foi na Copa da Italia, em 1990. Ele disse que
sentou com o lendário locutor no quarto do hotel e disse a ele não tinha mais
condição de narrar o jogo.
Uma vez contei a ele como o conheci. Ele não lembrava. Foi no dia que
meu pai morreu, em 1997. Um benemérito do Vasco tinha morrido e o velório
acontecia na capela ao lado da do meu pai. Meu irmão mais velho, David,
vascaíno e fã dele e se aproximou para falar com Loureiro. Eu era estagiário da
Tupi e me apresentei. Falei que estava triste porque meu pai não acompanharia
minha carreira. Loureiro disse que entendia perfeitamente o que eu dizia. Ele
me contou que perdera o pai, seu maior incentivador, às vésperas de embarcar
para sua primeira Copa do Mundo, a de 1978 na Argentina. Ele disse que tinha fé
que o pai dele olhava por ele desde então e que o meu faria o mesmo.
No fim do segundo tempo de sua
vida, ele se reencontrou com a cobertura esportiva, graças a um convite do
Gilmar Ferreira para participar dos debates do Globo Esportivo. Ali, o português
mais carioca que o rádio conheceu mostrou porque era cria de Copacabana. Quem é
do mar não enjoa e mesmo mais de uma década depois de se afastar da
rotina esportiva, se tornou um dos destaques do programa com o conhecimento dos
atalhos do mundo do futebol.
Loureiro tinha um jeito duro às vezes. Estava na coordenação da Rádio
Globo e nem sempre a relação com os comunicadores é de rosas e tapetes
estendidos. No entanto, sempre que eu chegava perto, ele abaixava a guarda.
Quando comecei a apresentar programas na Rádio Globo, me incentivou e me deu
algumas dicas.
Ele viveu intensamente e depois de abusar algumas vezes do coração, o
metrônomo fez o samba atravessar.
Uma noite o telefone tocou e quando vi era o número dele. Loureiro
estava internado e senti que a notícia não era boa. Era a mulher dele, Mary,
dizendo que os médicos o tinham desenganado. Estava no hospital ao lado da
família na hora que o médico disse que ele havia partido.
Saudade de passar na sua sala por volta das três da tarde e trocar
impressões sobre futebol, música e política.
Loureiro é representante de um rádio que não existe mais. Ainda existem
alguns desses representantes por aí, mas depois deles não haverá
sucessores.
Espero que lá em cima tenha Botequim, um bom chope, um tira-gosto de
primeira e algum time da cruz de malta para o Loureiro torcer.
Papo de Botequim era ótimo. Sinto falta do Loureiro.
ResponderExcluirTransmitimos o papo de botequim direto do camarote da Brahma....foi um sucesso!!!
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