The Washington Post era um dos jornais mais importantes do mundo em
1980. A entrada de Ben Bradlee no início da década de 1960 transformara o
diário. Na esteira dos casos Papéis do Pentágono e Watergate, o jornal
alcançara o Olimpo dos diários americanos.
A repórter Janet Cooke emplacou uma história impressionante. Um menino
de 8 anos injetava heroína em si mesmo desde os 5. O caso ganhou uma
repercussão absurda nos EUA.
A repórter ganhou o prêmio Pulitzer por causa da matéria. No entanto,
pouco tempo depois se descobriu que Janet Cooke inventara toda a
história.
O editor Bem Bradlee escreveu uma carta à fundação responsável pelo
Pulitzer explicando que Janet não poderia aceitar o prêmio.
Bradlee enfileirara inimigos importantes desde a década de 1960, entre
eles o ex-presidente Richard Nixon e o ex-secretário de Estado Henry Kissinger.
Aquele erro grave serviu para que seus detratores quisessem destruir sua
reputação.
Ben Bradlee procurou o ombudsman do Post e pediu que fosse feita uma
grande reportagem sobre a “barriga”. A matéria sobre o erro no caso Jimmy teve
a primeira página e quatro outras dentro da publicação. A reportagem mostrava tudo em
10 mil palavras. O editor preferiu explicar ao público como ocorrera o erro.
Transparência total. O caso se tornou um exemplo de como podem ser perigosas
reportagens com fontes secretas.
A maneira como lidou com o erro mostra a coragem de Ben Bradlee. O nome
do jornalista americano voltou à tona com o filme The Post, no qual ele é
interpretado por Tom Hanks.
Conversando sobre The Post com meu amigo/irmão Alexandre Caroli, ouvi uma
frase que explica um pouco o ofício jornalístico: Ben Bradlee não viveu em
vão.
Num tempo em que vemos gestores fazendo cortes e as grandes redações se
tornando cada vez menores, o exemplo do editor americano poderia inspirar um
pouco as coisas por aqui.
Logo que assumiu o Washington Post, Bradlee contratou cerca de 60
repórteres e mapeou onde estavam os bons profissionais para trabalhar no
jornal. Ele entendia que os bons repórteres eram a alma do diário e que era
importante qualidade e boa remuneração para que eles continuassem a trazer boas
histórias e mantivessem a qualidade e a credibilidade do jornal.
Havia quem questionasse os métodos do editor do Post, no entanto, ele se
mostrou intransigente com algo vital para a democracia: a liberdade de
imprensa.
Ao desnudar os erros no caso Jimmy, Bradlee mostrou um profundo respeito
pelo público. Acho que a atitude mostrou acima de tudo um respeito pelo
Jornalismo, assim mesmo, com letra maiúscula. Ben Bradlee não foi imparcial,
ele defendeu até o fim o que acreditava.
Amanhã vou falar mais um pouco sobre o jornalista. Quem quiser saber
mais sobre o mítico editor do Post pode procurar o filme O homem do jornal: a
vida de Ben Bradlee.
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