Entre 2000 e 2004 eu cobri os camarotes na Marquês de Sapucaí. De posse
desta informação, o leitor mais apressado soltaria aquela expressão: “se deu
bem”. No entanto, serei obrigado a desmistificar o glamour da minha
jornada.
Se eu disser que ingeri zero ml de cerveja mesmo passando todos esses
anos no camarote da Brahma, o leitor dirá que sou um mentiroso. Mas acredite,
não bebi. Comi, porque ninguém é de ferro. Tive tempo de arrumar uma treta e
gestar um ranço profundo por dois personagens do esporte.
O primeiro é o indefectível Carlos Arthur Nuzman. Fim de noite, chego ao
camarote da revista Rio Samba Carnaval e o presidente do COB estava indo embora.
Aproveitei para perguntar-lhe se os episódios de violência no Rio atrapalhariam
a candidatura da cidade para os jogos de 2012. Quase me meti na seletiva
da equipe de boxe. O ditador olímpico se enraiveceu e o pugilato quase se realiza.
Do episódio, guardo um ranço do dirigente. Confesso um gostinho de vingança
pelos dias que o cidadão passou na cadeia em 2017.
Outro por quem não nutro simpatia é aquele centroavante que fez uma Copa
brilhante em 2002 e deu uma amarelada clássica em 98. O jogador se comportou no
carnaval como uma prima dona. Durante uma coletiva improvisada ele soltou a
pérola: “não consigo ver os desfiles aqui, porque vocês jornalistas não deixam”.
Fora o rastro de mau humor que deixava pelos camarotes da cervejaria. Iludido
pela imagem de garoto humilde do subúrbio fui me aproximar dele para fazer uma
pequena entrevista e ele mandou; ”só uma pergunta”. Tentei explicar que tomaria
pouco tempo, dois minutos no máximo e ele falou enfaticamente “uma pergunta”.
Fiz a pergunta, mas pensando bem não deveria ter feito pergunta alguma.
Quem se mostrou simpático no mesmo carnaval foi o técnico da seleção na
época. Luiz Felipe Scolari foi solicito e respondeu pacientemente as
perguntas do repórter que a partir de determinado momento encontrava
dificuldades em achar pessoas com condições etílicas aceitáveis para conceder entrevistas.
Quatro meses depois ele se tornaria campeão mundial dirigindo o escrete
canarinho, perdão pelo clichê futebolístico, mas não pude resistir. Não sei se terei outra oportunidade de me referir à seleção desta forma.
Saindo da esfera esportiva, chego ao povo da política. Pelo que me
lembro, o camarote da Prefeitura era mais farto quando Luiz Paulo Conde era alcaide.
O de César Maia era mais “econômico”. Era engraçado também, quando Cesar e
Garotinho trocavam farpas. Seus camarotes eram relativamente próximos. Um
falava mal do outro e a gente repercutia durante o carnaval.
No fundo, o grande barato da avenida era encontrar os coleguinhas e
conversar sobre tudo. Nota do blogueiro para quem não é jornalista, Coleguinha =
Jornalista. Aliás, na Marquês de Sapucaí tem um correspondente ao clássico “é
pavê ou pá comer” do Natal. No carnaval a piada batida é “você já viu a Mangueira
entrar?”
Às vezes o cansaço era tão grande, que só restava rir da piada. A
exaustão e as bolhas no pé até davam graça à conotação sexual da
sentença.
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