Amigos, fiz recentemente uma viagem a Salvador. Que
lugar mágico! Um belo cenário de cidade, como dizia a poetisa britânica Elizabeth
Bishop a respeito do Rio de Janeiro. Fazendo uma leitura otimista da cidade,
para onde você olha na orla, vê beleza. Salvador tem mazelas, pobreza e desigualdade social como
em vários cantos do Brasil. Pareceu aos meus olhos de turista um belo lugar
para se viver. Vou louvar a capital baiana em outros textos, mas esse é sobre
os cuidados que você deve tomar por lá.
Eu e minha mulher resolvemos conhecer o Pelourinho numa sexta à noite.
Haveria uma apresentação de um grupo de teatro de rua que encenaria trechos de
obras de Jorge Amado. O cenário seria nas ladeiras e sobrados do “Pelô”.
Apesar de termos alugado um carro, decidimos ir de táxi. Eu já estava meio cansado
de brigar com o GPS, além de ter a intenção de tomar uma cerveja.
Pegamos o carro na porta do hotel, pertinho do Farol da Barra e nos
dirigimos ao Pelourinho. Não me sinto capaz de dizer se o caminho do taxista
foi o mais curto. O fato é que demoramos 25 minutos até o local. Quando chegamos
ao Terreiro de Jesus, fomos pedir informações a um homem.
O diálogo foi assim. Observação: ao ler os trechos com as falas do
cidadão, ponha em sua mente a sonoridade daquele irresistível sotaque
baiano.
- Amigo, por favor, queremos saber onde está o grupo que encena trechos
de obras do Jorge Amado.
- É perto de minha casa. Vocês são de onde?
- Somos do Rio de Janeiro. (dispositivo “vou ser enrolado começando a
disparar”)
- Ah, adoro gente do Rio de Janeiro. Conheço gente nos bairros de
Botafogo, Humaitá e Macaé.
Decidi não interromper e explicar que Macaé não é bairro, mas sim uma
cidade a um 200 quilômetros do Rio. A fala prosseguiu.
- Estou louco para comer macaxeira e estou sem dinheiro. Vocês poderiam me ajudar? A mercearia é no caminho...
Pagaríamos pela informação, ok, não há almoço de graça. Aceitamos o
pedido. O fato é que atrasados para ver o espetáculo na rua, entramos numa
mercearia.
O que seria uma macaxeira virou a compra de um pacote de farinha, outro de
arroz, óleo para cozinhar e feijão branco. Quando nos aproximávamos do caixa,
nosso guia olhou para o vendedor e pediu um “pedacinho de carne seca”.
A conta deu R$ 42,00 reais. Neste momento, despertei do raio hipnótico
daquele sotaque e disse:
-Peraí, não vou levar tudo.
Nosso guia falou:
- Tire a farinha
Eu repondo
- tira mais coisa.
Ele cedeu:
- Tire o feijão.
Resultado, a conta baixou para R$ 31,00. Ele então tentou mais uma
coisa:
- Tome esses R$ 4,00. É o dinheiro de minha passagem.
Não me fiz de rogado, peguei o dinheiro dele e reduzi a “extorsão” para
R$ 27,00.
Sobre a apresentação do grupo de teatro falarei em outro texto. Posso
adiantar que é sensacional e emocionante. Parece que você entrou num dos
livros de Jorge Amado.
Resolvemos voltar ao Pelourinho no dia seguinte. Falei com Ana Claudia
que usaríamos a tática do meu sogro. Quando ele está numa roda e tem alguém
chato, ele evita o campo visual da “mala”. Assim, ele se poupa da conversa
inconveniente. Meu sogro, não sabia, mas usa a mesma tática de Tom Jobim. O
maestro usava óculos escuros para evitar encontros indesejáveis e dizia: “chato pega pelo olho”.
Então a gente não olharia ninguém. Nossa tática foi pouco eficiente. Ao
primeiro descuido um vendedor licenciado nos capturou, nos encheu de fitinhas
do Nosso Senhor do Bonfim, cordões e colares.
Eu olhava para minha mulher e dizia com os olhos: “caímos de novo”. Pagamos 40 reais por colares que não queríamos, fitinhas que não eram tão
necessárias e um cordão que não valia a pena.
Andamos então da Praça Castro Alves ao Elevador Lacerda. A construção é
bonita, a visão da Baía de Todos os Santos é encantadora. Eu e Ana Claudia
compramos então as passagens de R$ 0,15, entramos no elevador e nos preparamos
para a vista...
Bem, quando o elevador se movimentou começamos a rir. O Elevador Lacerda
não é panorâmico! Não há lugar algum dizendo que é. Nós tiramos isso de nossas
cabeças. Afinal, o Elevador Lacerda é apenas um meio de transporte.
Esses pequenos "7X1" foram muito pouco representativos do que foi nossa viagem a Salvador. Como já disse, as partes sensacionais da viagem serão
escritas em outros textos. Este foi para informar aos desavisados, entre outras
coisas, que o Elevador Lacerda é apenas um elevador.
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