Ser jornalista é quase ingrato. Se a gente olhar
muito de perto, perde a noção da importância do que se faz. Fazer jornalismo é
um eterno renovar da ideia que o todo é muito maior do que a soma das partes. É
aquilo cantado por Beto Guedes: um mais um é sempre mais que dois.
A importância do jornalismo só se percebe com o olhar em perspectiva.
Se você colar os olhos num quadro não vai perceber a técnica do artista, apenas
a pincelada unitária. E aquela borrada na tela é apenas uma pincelada. A
reunião delas faz com que o quadro se defina. As pinceladas se
ressignificam. Picasso usou milhares para pintar “Guernica”.
Mas voltamos ao todo e não à parte. A devoção do jornalista faz com que
sua matéria ganhe a dimensão épica. Pragmaticamente, sua obra perecerá aos
primeiros raios da manhã, mesmo assim, ele continua a escrever. Escreve para manter o
coração pulsando.
Fazer jornalismo é fundamental para o agora e para o futuro. Daqui a 100
anos nossos tataranetos tomarão consciência desses loucos dias por
intermédio do que venhamos a deixar registrado em nossas matérias. Elas estarão
publicadas em plataformas existentes e nas que ainda serão inventadas.
Em alguma encarnação passada escrevi, com boa dose de pretensão: o
jornalista escreve o evangelho de nossos dias. A retórica tenta salvar a frase
da mediocridade, mas o postulado é totalmente verdadeiro.
Nossas atitudes nos precedem e superam. Logo, somos impelidos a ser
responsáveis. Quais exemplos legaremos aos nossos ramos genealógicos?
Qual sentimento haverá por nossas fotos registradas em portfólios de
megaterabites (acabo de inventar a medida)? Pode ser que no nascimento, nossos
descendentes recebam um chip que lhes orientará os passos. Vá saber.
Mas na base deste ultra programa avançado estarão nossas matérias. O
jornalismo é imortal, sempre haverá a necessidade do mensageiro.
Seremos atacados, muitos dirão que o jornalismo morreu. Visões fatalistas
exibirão meteoros caindo e os jornalistas desaparecendo da face da terra, como
dinossauros. Mas a técnica e o profissionalismo manterão a chama acesa. Na
hora que a fome de informação apertar, os jornalistas serão os responsáveis por
matá-la.
Vamos separar uma coisa da outra. O jornalismo não está em crise. Ele se
faz cada vez mais necessário. As grandes redações é que estão em crise. A busca
incessante pela colaboração de leitores, ouvintes e espectadores mostra mais a
fraqueza do modelo de negócio dos grandes veículos do que a falência do jornalismo.
O jornalismo, esse eterno adolescente questionador, sobrevive em cada
resposta perseguida, em cada mentira desmascarada e a cada vida resgatada do
escuro.
Se você quiser falar mal do jornalismo pense: ruim com ele, muito pior
sem ele.
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