Entre
idas e vindas, trabalhei por 19 anos no Grupo Globo. Não me lembro de ter visto
uma reprimenda ao vivo a um comentarista como fez o Sportv a Juninho
Pernambucano. No programa Seleção Sportv, apresentado por André Rizek, Juninho
fez uma série de críticas aos setoristas esportivos. O ex-jogador afirmou,
entre outras coisas, que as relações eram promíscuas entre atletas e repórteres
que cobrem os clubes. Além disso, ele disse que um jornalista que estudou
muito e ganha 3 ou 4 mil reais tem preconceito ao entrevistar um jogador
que não estudou e ganha 100 mil reais. Juninho falou ainda que a imprensa
despreza os atletas por considerá-los apenas pessoas com sorte por ter um talento
para jogar bola.
Há algumas semanas, Juninho já havia criado polêmica ao dizer
que a torcida do Flamengo era preconceituosa com o lateral Renê porque ele é
nordestino.
O talentoso ex-jogador não aprendeu com o episódio anterior sobre
os perigos da generalização. Incorreu no erro grave novamente. Colocou em
dúvida a conduta de todos os jornalistas que cobrem clubes.
Juninho está tentando fazer uma linha de comentarista que coloca
o “dedo na ferida”. Alguém tem que explicar para ele que as coisas não
funcionam assim no jornalismo. Acusações como essas de Juninho, devem ser
feitas com provas e fundamentos.
Juninho se mostra ressentido. Ressentimento não é recomendável
para quem empunha um microfone poderoso como é o do Sportv e o da TV
Globo.
Neste episódio, me chamou a atenção ainda a reação imediata da Direção
de Jornalismo do Sportv. Foi muito rápida e me fez pensar que foi uma decisão
corporativista. Não houve reação tão ágil quando a torcida do Flamengo foi
chamada de preconceituosa pelo comentarista.
Feitas essas observações, é importante pensar que Juninho não
está errado ao falar de relações promíscuas no futebol. O problema foi ter
generalizado. As relações promíscuas não são apenas entre setoristas e atletas.
O escândalo recente envolvendo propina para compra dos direitos de transmissão de
competições internacionais não tem a participação de setoristas e sim, de corporações
de mídia, como apontam as delações. (https://veja.abril.com.br/placar/caso-fifa-globo-e-acusada-de-pagar-propina-e-se-defende/)
Um exemplo de relação promíscua, ou pelo menos pouco ortodoxa, é
contratar o principal jogador brasileiro para que ele dê um tratamento
diferente a uma empresa jornalística (https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2018/02/por-exclusividade-globo-contratou-neymar-no-ano-da-copa-de-2014.shtml).
Então, Juninho acabou dando tiros a esmo e acertou telhados de vidro que
ninguém quer estilhaçados.
Com Juninho, dessa vez, a reação foi bem forte. Me arriscaria a dizer que a continuar assim, apesar do discurso de “opinião livre” feito pelo
Sportv, o “Reizinho” se encaminhará para a marca do pênalti.
Abaixo o link com a bronca da Direção de Jornalismo do Sportv em
Juninho Pernambucano.
Perfeita a sua análise, Juninho desceu pro play e não sabe brincar... Talvez esse seja um bom exemplo do valor que a faculdade de jornalismo tem. Ele está no fundo do poço e não para de cavar.
ResponderExcluirUm ponto não abordado no seu post é a, aparente, falta de honestidade/respeito do veículo com um seu prestador de serviço, não ao dizer que discorda do comentarista publicamente, mas sim ao não combinar com ele antes. A julgar pela reação e da réplica dele ao pito, ele não tinha conhecimento algum do que iria acontecer.
Não há qualquer manual de gestão de pessoas que ensine a tratar um colaborador que errou desta forma. A nota deveria ter sido dada e ele deveria ter sido preparado para dar uma resposta adequada ao ocorrido. A Globo mantê-lo em seu time, ou ele ficar, e sinal de que alguém não tem caráter.