A chamada da TV Globo para o jogo entre Brasil e Sérvia
me assustou. O texto tinha tons sensacionalistas, algo como “o jogo que vai
decidir nosso destino”. Depois vinha uma frase do tipo “o time da Sérvia é mais
alto do que o nosso, mas teremos que ser maiores do que eles”. Se entrasse “Pra frente, Brasil” a viagem de
terror no tempo seria completa.
A chamada da maior emissora do país soou algo anacrônica,
mas perigosa também. A seleção brasileira é um time de futebol, não é o país.
Gosto muito de futebol, vibro, comento, corneto e acho que sei falar de tática
tanto quanto Tite e, até, quanto o Guardiola. No entanto, sei exatamente todas
as caronas políticas que os governantes tentam pegar nos eventos esportivos.
Enquanto nos preocupamos com os nervos à flor da pele de
Neymar, A justiça deu uma forcinha para a Samarco e a empresa deixou de
correr o risco de desembolsar bilhões para a criação de um fundo de prevenção
de desastres como o provocado por ela mesma. A empresa sairá impune por ter
matado gente, rios, fauna e flora. Por mais que se explique que o acordo faz
parte de um Termo de Ajustamento de Conduta, o que interessa é que o desastre
ambiental deixou marcas indeléveis em Minas e Espírito Santo. A nós, resta na
boca um gosto amargo de fel, ou melhor, de lama.
O Brasil que precisas ser maior do que a Sérvia, precisa
aprender a respeitar as mulheres. A atitude de Frederico D´Ávila no programa
Roda Viva entrevistando a pré-candidata do PC do B à presidência foi espelho do
que pensa uma parcela, infelizmente expressiva, da nossa sociedade. O “entrevistador”,
assessor do capitão candidato e ligado ao agro negócio, perguntou à Manuela
d´Ávila se ela achava que a castração química era uma solução para acabar com o
estupro. Ao tentar responder, Manuela foi ostensivamente interrompida pelo cidadão.
O “entrevistador” não sabe conviver com a diversidade de ideias. E o programa,
deveria se desculpar com Manuela. Jornalismo não deve ser contra ou a favor,
mas deve ser cordial. Tudo que esse imbecil, perdão, não consigo encontrar
outro termo, não foi.
Enquanto Tite decide quem será o capitão do time no
próximo jogo, Bruna da Silva tenta catar estilhaços do coração. Ela sofreu a
dor indizível de enterrar o filho de 14 anos, Marcos Vinicius, morto durante
uma operação na Maré. O menino estava com uniforme escolar. O Brasil que precisa
ser maior do que a Sérvia, jamais estará à altura da dor dessa mãe.
E por falar em crianças, o que dizer das 49 brasileiras
que foram separadas dos pais, graças a mais uma medida do inacreditável Donald.
Nesse meio tempo, o vice-presidente dos EUA vai a Brasília e diz ao morto-vivo
que porta a faixa presidencial como deve ser o relacionamento entre Brasil e Venezuela.
Ah, não faltava mais nada. Americanos vindo aqui e dizendo como devemos nos
portar. Filme antigo, com trilha sonora de vitrola, imagens de TV em preto e branco
com Bombril na ponta da antena para sintonizar melhor.
E lá vamos nós, caminhando para trás, querendo ser
maiores do que a Sérvia, mas não conseguindo ser nem do tamanho que deveríamos.
Desrespeitamos, mulheres, crianças e quem pensa diferente. Pra frente, Brasil?
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