As rádios do Rio de Janeiro fizeram alguns gols contra
nesta Copa do Mundo. É lamentável que Globo e Tupi não tenham enviado locutores
para Rússia. Os locutores estão no chamado geladão, fazendo a transmissão
assistindo pela TV. Para se ter uma ideia, na Copa do México, em 1986, Haroldo
de Andrade apresentou seu programa de lá. Uma Kombi fazia as vezes de carro de
som e os brasileiros que acreditavam na repetição do triunfo de 70 se sentiam
mais perto de casa.
Fundamentalmente, a Rádio Globo demonstrava pujança e
relevância no mercado publicitário. Esta primeira fase da Copa coincide com o
primeiro ano no ar da Nova Rádio Globo. E então, por dever de ofício de
professor, decidi acompanhar França e Dinamarca pelo rádio. Fiquei impressionado
com uma coisa. Não ouvi nenhum, isso mesmo, nenhum comercial na transmissão da
Rádio Globo. Chamadas dos programas, um excelente quadro O dia na música, mas
comercial não tocou. Coloquei na Bandnews. Se não perdi as contas, havia cinco
anunciantes, ou seja, cinco cotas de patrocinadores.
Como o jogo era 11h, a Tupi manteve sua estratégia de não
alterar a programação por causa das partidas. A exemplo do que fez em 2014, a
Tupi escolhe quais jogos vai transmitir. Por isso, não pude comparar com a carga
comercial da Globo.
Gostaria de entender como o mesmo produto, futebol, no
mesmo veículo, o rádio, tem realidades tão distintas. A cadeia Bandnews/Rádio
Bandeirantes conseguiu patrocínios e a cadeia Globo/CBN não. Podemos pensar em
algumas coisas. O preço cobrado pelas cotas, talvez as emissoras da família
Saad tenham jogado os preços lá embaixo e conseguido vender as cotas. Outro
fator que pode ter favorecido a Band é o fato da força da empresa ser no
mercado de São Paulo, mais aquecido do que o carioca em muitos sentidos, principalmente
no comercial. (Nota, a Globo obedece uma determinação da FIFA que não pode ter anúncio durante a bola rolando. Como o intervalo é uma zona cinzenta, não é bola rolando, mas está no meio do jogo, talvez a emissora tenha optado por não colocar os anúncios. Feita aqui a observação, para não cometer injustiças, de qualquer forma a taxa de ocupação de breaks ainda prevê baixa).
A Rádio Globo opera em São Paulo na frequência FM há menos
de um ano. Os números ainda não se firmaram, logo, o produto pode não estar
atraente para os anunciantes. Uma das âncoras da reformulação da Rádio Globo
era a FM em terras paulistanas. A escolha da voz padrão da emissora, inclusive,
parece ser proposital. Para quem não é do meio, voz padrão é aquela voz que faz
todas as locuções institucionais da emissora. Dirceu Rabelo, por exemplo, é a
voz padrão da TV Globo.
Depois de quase um ano do projeto da Nova Rádio Globo
estar no ar, há pontos positivos a se destacar. Carolina Morand dá mais
credibilidade ao Café das 6. Fernanda Gentil empresta muito carisma ao Papo de
Almoço. Às vezes, ela esquece de fazer referência a quem está falando, mas é
algo que a rodagem vai corrigir. O Pop Bola continua bom, mas a audiência no
dial sofre problemas por causa dos números ruins do jornal das 5 da tarde, apresentado
por Rosana Jatobá. O investimento do Pop Bola na Internet é interessante e
acertado. O Globo Esportivo com Marcelo Barreto também é um bom programa.
No entanto, percebo que o problema de poucos anunciantes
na Copa se reflete no restante da programação. Não faço ideia dos números da
empresa e em nome dos muitos amigos que tenho por lá, espero que a emissora
tenha lastro para aguentar o que parece ser falta de verbas publicitárias.
Acredito que um projeto deste tamanho deve ter recebido um voto de confiança
dos donos. Não sei qual foi o prazo dado para que a reformulação comece a dar
resultados. Um ano para mudar a percepção de outros 73 é pouco. Não sei se na
frieza das finanças, essa desproporção temporal vai ser levada em conta na hora
de decidir pela continuidade do projeto.
A Globo escolheu mudar de segmento por falta de
resultados financeiros. Era necessário fazer algo. Trocou um segundo lugar, no
qual às vezes beliscava o primeiro, para brigar com a JB, estabelecida como
líder das rádios adulto/contemporâneas. Só o tempo, esse agente misterioso e
insondável, será capaz de responder se o caminho foi o certo.
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