O roteiro está sendo escrito conforme o autor pensou em Curitiba.
Fernando Haddad foi anunciado como vice na chapa do PT. Como Lula deverá ser
impedido de disputar presidência, o ex-prefeito de São Paulo herdará a
candidatura.
A pergunta que a eleição vai responder é a capacidade de Lula, mesmo
preso, transferir sua intenção de votos para Haddad. Obviamente, esta eleição é
a mais imprevisível desde a redemocratização. Os três candidatos mais bem
colocados nas pesquisas tem problemas.
Lula é virtualmente inelegível. Jair Bolsonaro e Marina Silva não têm
dinheiro e nem tempo de TV. Por causa disso, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin ficam
cada vez mais competitivos. Se a lógica de outras eleições permanecer, Marina e
Bolsonaro vão cair nas pesquisas gradualmente até que aconteça a ultrapassagem
dos candidatos mais ricos e com mais máquina partidária. Para Marina esse “esvaziamento”
dos números não é novidade. Em 2014, após um empate técnico com Dilma Rousseff
na liderança, sucumbiu aos ataques tucanos e petistas e ficou fora do segundo
turno.
Haddad pode embaralhar a mesa. Assim que sair a decisão judicial
impedindo a candidatura de Lula, deve começar a jogada. Haddad iria para a
cabeça da chapa e Manuela D’Ávila seria a candidata à vice. O ex-prefeito da
maior cidade do país conseguiu escapar sem muitos arranhões pelas investigações
da Lava-Jato. No entanto, tem contra ele uma derrota no primeiro turno para
João Dória quando tentava a reeleição. Fernando Haddad já recebeu palavras
elogiosas até de Fernando Henrique Cardoso e tem um estilo menos beligerante do
que a presidente do partido, Gleisi Hoffman. O provável cabeça de chapa do PT
terá um dilema: será assumidamente um “poste” ou mostrará independência em
relação ao criador.
É curiosa a realidade do PT atualmente, como escreveu um dia desses meu
amigo João Carlos Viegas. Numa carta ao jornal O Globo, Viegas aponta que os
petistas recorrem a um expediente que criticaram muito no PDT de Leonel Brizola,
o culto a uma personalidade. O julgamento de Lula foi político, mas ao esticar
a corda por sua candidatura, o partido pode ver a esquerda fora do segundo
turno.
Geraldo Alckmin está aliado com a nata do conservadorismo e do
pragmatismo político. A questão que se impõe é como se comportará a trinca de
ferro do Norte-Nordeste (Sarney, Barbalho e Calheiros). Apesar dos três
pertencerem ao MDB, nem Henrique Meireles apostaria um dólar no apoio
deles. A família Sarney aposta as fichas em Rosena para recuperar a hegemonia. O PT vai apoiar Flávio Dino, do PCdo B. No Maranhão, o PT vai com candidato próprio, Flávio Rocha. O clã Barbalho vai de Helder, logo, não é uma aliança fácil no primeiro turno. Em Alagoas, o PT apoia o MDB de Renan Filho.
Enquanto o TSE não decidir a situação de Lula, o jogo está emperrado.
Com Lula na jogada, a trinca de coronéis pode até embarcar na campanha do
petista. Claro, como reza a cartilha deles, será um apoio de forma velada,
afinal, o MDB tem candidato. Também não é hipótese descartável que entrem na
canoa de Geraldo Alckmin. Tudo vai depender da maré.
Faltando dois meses para a eleição, o bom senso manda não fazer apostas.
Mas como posso me dar ao luxo de ter opinião neste espaço, farei algumas.
- Sem
Lula na parada, Alckmin deve conseguir chegar ao segundo turno. Não sei se
em primeiro ou segundo lugar. A máquina partidária por trás do tucano é
muito forte. A adesão do Centrão é decisiva para a minha aposta.
- Os
votos de Marina deverão bater asas rumo a Ciro Gomes e Fernando Haddad,
dependendo da tendência que o “voto útil” apontar. Quem estiver na
frente leva o quinhão da candidata da Rede para tirar o capitão da
disputa.
- Bolsonaro
deve ficar em terceiro lugar no primeiro turno. Claro que nessa corrida
maluca, tudo pode acontecer, mas a experiência de eleições anteriores
mostra que dificilmente sem máquina partidária, sem dinheiro e sem tempo
de rádio e TV ele seja um candidato competitivo até o final.
A lógica de outras eleições apontaria para as hipóteses acima. A questão é o tamanho da mobilização nas plataformas sociais, principalmente do candidato Jair Bolsonaro. Se um candidato com tempo de televisão pífio conseguir chegar ao segundo do turno, estará inaugurada uma no a era eleitoral no país. Pragmaticamente, aí da acredito que máquina partidária e exposição nos meios tradicionais ainda fazem muita diferença. Outro fator interessante para ser observado na corrida maluca.
Tenho um oráculo com quem sempre falo sobre eleições. Ele me disse, com todo bom senso que norteia suas opiniões, que não é sensato ter ideias absolutas diante do quadro que se apresenta. Então minhas apostas de cima podem todas cair por terra.
Tenho um oráculo com quem sempre falo sobre eleições. Ele me disse, com todo bom senso que norteia suas opiniões, que não é sensato ter ideias absolutas diante do quadro que se apresenta. Então minhas apostas de cima podem todas cair por terra.
Uma dúvida me atormenta em relação a essas eleições: realmente não
entendo as razões que levaram Henrique Meirelles a se lançar candidato. A
economia não está essa Coca-Cola toda. Outra coisa, ele será o fiel depositário
de todo o ódio que se tem pelo presidente mais impopular da história. Além
disso, O MDB já traiu Ulisses Guimarães e Orestes Quércia, raposas muito mais
felpudas do que ele. Será que o ex-ministro da Fazenda acredita em unidade da
legenda? Inocência? Vaidade? Talvez fosse bom gastar um tempo lendo matérias de
arquivos de outras eleições.
A princípio, as pesquisas de agora são só ensaio. O rock’n roll vai começar depois do
horário eleitoral de rádio e TV e dos debates.
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