quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Crivella e a desventura de andar de ônibus no Rio

Prefeito, vou contar algumas coisas da minha rotina. Quando acordo menos atrasado, eu pego ônibus. É legal para dar um tempo no carro, me distraio lendo o jornal e conferindo minhas redes sociais, coisas que ao volante não consigo fazer. 

Não sei se o senhor ainda sabe o que é ônibus. Tenho certeza de que conhece pessoalmente os donos deles. Alguns financiam campanhas de políticos. Tem outro, inclusive, que é compadre de ministro do Supremo e está solto por essa relação. 

Para minha sorte, o ônibus é opcional na minha rotina, mas as poucas vezes (e num trajeto curto) me assustam. É impossível não pensar na desventura diária de milhões de cariocas pelos maus serviços prestados pelas empresas. Ônibus velhos, desconfortáveis e sem ar condicionado.  Nesta quarta-feira fui “brindado” com o veículo 41228, da linha 538. 

A começar na passagem da roleta. Não uso o Riocard, saquei R$ 5 para pagar a passagem de R$ 3,95. O nada sorridente motorista não tinha troco e pediu que eu o procurasse na hora de saltar para pegar o dinheiro. 

Não o culpo pela pouca empatia. As empresas acabaram com os trocadores e o cidadão tem que receber o dinheiro, fazer troco e sobreviver no trânsito do Rio. 

Sabe, prefeito, tenho 1,74m. Logo, não sou das pessoas mais altas do mundo. Minhas “longas” pernas não cabem no espaço entre os bancos. Além disso, a cadeira tem um braço de apoio que ficou pressionando minhas costelas durante todo percurso. 

Para piorar meu sofrimento, o motorista encarava seu ônibus como um bólido de Fórmula 1. A curva para entrar na Marquês de São Vicente, por exemplo, foi digna de um renomado piloto de “baratinhas”. Isso sem falar nas freadas bruscas. As pessoas em pé, corriam o risco de queda a cada pisada no freio. 

Com uma mancha na altura das costelas, provocada pelo braço da cadeira,  e o joelho dolorido de tanto bater no encosto do assento da frente, consegui saltar. Já fora do ônibus, passei pelo motorista e ele tentou me dar o troco, mas eu estava tão irritado com a direção agressiva, que ignorei a oferta. 

Ao chegar nos pilotis da PUC para pegar o elevador, vi um aluno esperando e dançando todas. Fazia passinhos ritmados com os fones no ouvido como se não houvesse mais ninguém no mundo. Quando o elevador chegou,  ele parou de dançar. Eu fiquei curioso a respeito da música que ele estava ouvindo. Que som era aquele que provocava uma reação tão espontânea às 7h20m da manhã. Neste momento, o sorriso voltou ao meu rosto. Apesar da sua inépcia, prefeito,  e do abandono que a cidade vive, lembrei que o mesmo dia pode ter diferentes ritmos para as pessoas. O meu estava irritadiço, mas a dança do rapaz me acalmou e mudou o ritmo das coisas. 


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