Sempre que
quero entender mais do que os meus olhos leem, procuro alguns
"gurus". É a velha máxima de aprender com os professores que a vida
vai oferecendo em doses generosas, quando se quer aprender. Se o assunto é
política, sempre procuro saber o que vai pela cabeça do cientista político
Cesar Romero. Autor do livro "A Geografia do voto nas eleições
presidenciais no Brasil: 1989 – 2006", Cesar abriu minha perspectiva para
o que pode acontecer nas eleições de 7 de outubro.
Há uma luz no fim do túnel para a candidatura de Geraldo Alckmin. Ela atende pelo nome de voto útil. O ex-governador de São Paulo pode lucrar com a subida de Fernando Haddad. Essa opinião vai além do que uma análise mais superficial dos números pode sugerir. Segundo Cesar, a subida de Haddad vai tirar votos de Ciro Gomes e Marina Silva. Com a queda dos dois, Geraldo Alckmin se isolaria em terceiro lugar. "Haddad subiu 1 ponto percentual por dia na semana de 10 a 14/9, o que indica a eficácia da estratégia petista de transferência dos votos. Ele deve subir ainda mais. Desde 1989, a esquerda tem cerca de 30% dos votos. Foi assim em 1989 quando Lula e Brizola somados chegaram a isso, se repetindo em 1994 e 1998".
Essa
configuração das pesquisas pode dar ao candidato do PSDB o discurso do voto
útil para quem não quer votar nem no candidato petista, nem em Jair Bolsonaro.
Para conseguir a arrancada, o cientista político explica as contas que o tucano
deve fazer: conquistar os 3% de João Amoedo, os 3% de Alvaro Dias, os 3%
de Henrique Meirelles. Se forem somados esses votos, aos que tem e o que
eventualmente conseguir tirar de Bolsonaro, Geraldo Alckmin
garantiria vaga no segundo turno.
Se as
hipóteses acima se realizarem, será reeditada a disputa que ocorre desde 2002.
PT e PSDB disputando a preferência do eleitor no segundo do turno a se realizar
no dia 28 de outubro. Cesar explica que essa polarização indica que no Brasil
não há a chamada terceira via. "Não há nada em comum entre Ciro
Gomes, 2002, Heloisa Helena, 2006, e Marina Silva, 2010 e
2014".
Jair Bolsonaro não seria a encarnação desta terceira via. No momento ele representa o anti-petismo, que desde 2002 era o papel do PSDB. Cesar Romero vê na Lava-Jato parte importante para a desvantagem tucana em 2018. "Quando estavam pegando apenas os petistas, tudo bem. Depois pegaram o Temer, tudo bem. Começaram a pegar integrantes do PSDB e a estratégia deu errado. Os tucanos esperavam se aproveitar dos problemas encontrados pelo PT, mas eles também foram pegos e ficaram sem discurso".
Os cenários previstos para o segundo turno vão ser decisivos para as estratégias de Ciro Gomes e Geraldo Alckmin. "Nas últimas três semanas de campanha, Ciro tentará unir a esquerda com o discurso de que derrotaria Jair Bolsonaro com mais facilidade, pois o candidato do PSL está tecnicamente empatado com Fernando Haddad. Já, a campanha de Alckmin vai adotar um discurso parecido, mas olhando para outra face da moeda. Vai dizer que é capaz de derrotar Haddad mais facilmente do que Bolsonaro faria".
Cesar Romero entende que as tarefas de Ciro e Alckmin são de difícil execução. A tendência é que Haddad continue a crescer. Por outro lado, se o atentado contra Jair Bolsonaro o retirou efetivamente da campanha, seus números ainda não começaram a cair. "Marina e Ciro já começaram a bater em Haddad, para tentar impedir o crescimento". O cientista político reitera que as projeções do segundo turno fazem com que Haddad prefira enfrentar Bolsonaro, e que o capitão também quer o petista como adversário.
No
Brasil gosta-se muito de metáforas futebolísticas. Por isso, pode-se
dizer que as últimas três semanas de campanha guardam duas semifinais para as
vagas na finalíssima, no caso, o segundo turno. Do lado esquerdo da campanha,
Ciro contra Haddad. Na “chave” da direita se enfrentam Alckmin e
Bolsonaro. Marina Silva mais uma vez perdeu a força no meio da corrida. A
candidata da Rede vai voltar para a hibernação quadrienal. Quem sabe em 2022
ela esteja de volta.
Muita bola vai rolar até o dia 7 de outubro. Um jogo em que os participantes dão carrinho por trás, agarram pela camisa, xingam pai e mãe na busca pelo gol, no caso, a preferência do eleitor.
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