sábado, 11 de maio de 2019

O Porsche e o Fusca

A foto no fim do texto é para pensar a história de dois carros. Poderiam ser duas pessoas. Mas aqui, quero falar das máquinas e não dos humanos que as conduzem. Em tudo parecem opostos. Na sombra o carro escuro, no sol, o carro branco. 

Se a sombra às vezes tem conotação negativa, o carro nela é um fetiche do consumo automobilístico. É um Porsche, veículo, que de segunda mão, por exemplo, pode ser encontrado por “irrisórias” quantias de seis dígitos. Foi a bordo de um deles que James Dean sofreu um acidente fatal em 1955

O lugar ao sol está com  o possante Fusca. Em seu auge se tratava também de um clássico dos desejos consumistas. Claro que não há tanto glamour quanto no Porsche. Digamos, que o Porsche é a aspiração dos alucinados por velocidade, enquanto o Fusquinha era a seu tempo o sonho de liberdade, mais modesto, para quem nos anos 1960 e 1970 queria se locomover, ou “caçar submarinos” em praias (seguras) nas noites cariocas. 

Por diferentes motivos nunca dirigi e, provavelmente, não dirigirei um Fusca ou um Porsche. Um por razões etárias e outro por razões monetários. Numa rápida busca no Mercado Livre, achei um Fusca ano 77 por R$ 7.500,00. No mesmo site, achei um Porsche Carrera 2008, pela bagatela de R$ 359 mil. Ou seja, com um Porsche é possível comprar quase 50 Fuscas. 

Os dois carros inspiraram personagens no cinema. A extinta Sessão da Tarde, na TV Globo,  exibiu diferentes versões de Herbie, Se Meu Fusca Falasse. O Porsche não chegou a protagonizar um filme, mas tinha papel relevante na franquia Carros. Sally Carrera, par romântico do protagonista Relâmpago McQueen, era um Porsche azul. 

E numa rua na Zona Sul do Rio se encontraram os dois veículos. Cada um numa direção, trajetórias cruzadas, e tal qual duas setas lançadas em direção contrária, só se encontram na intersecção e depois só no infinito. Como nunca se chegou ao infinito, nunca saberemos se haverá o reencontro. Os pragmáticos dirão que os dois precisam de combustível para andar e isso os iguala no infinito ou na esquina. 

Na verdade todo esse lirismo pode ir embora quando o dono de um Porsche comprar um Fusca e colocá-los lado a lado numa garagem. Nesse caso é a força do capital se impondo à subjetividade. E contra isso, não há remédio, o dinheiro compra tudo, um Porsche, um Fusca e até a lirismo. 


Um comentário:

  1. Muito bom!👏👏👏
    Temos a comparação Porsche x Fusca em tantos âmbitos da vida...

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