Que tipo de sorriso a sorte dá a você?
Durante os meus quase 10 anos na CBN eu cheguei às
6 da manhã. Fosse para fazer reportagem, apresentando e redigindo jornais, ou
na chefia. Esse horário me perseguia. Quando chegava o horário de verão era
pior. Dormir e acordar no escuro deveria ser proibido por lei. Ao constatar
minhas olheiras e ouvin do meus comentários sobre acordar cedo, uma pessoa que
não me conhecia
perguntou: seu trabalho é braçal?
Ri e pensei, mais do que ela pensa e isso não seria demérito algum. Às seis da manhã você rende o
repórter da madrugada em algo importante ou pega algum rescaldo. Às seis horas
da manhã se faz jornalismo de raiz, não há espaço para jornalismo Nutella.
Eis que numa determinada manhã prenderam o assaltante que roubara a casa
do Tom Jobim. O maestro já havia morrido havia uns 5 anos, mas assalto em casas
ricas da cidade são sempre "reportáveis".
Meu chefe de reportagem, Alexandre Caroli, enviou-me à delegacia da
Gávea. Talvez a delegacia com a vizinhança mais aprazível do Rio. Cheguei
e fui recebido por um inspetor. Ele me levou à sala dele para explicar como
fora a mecânica da prisão do assaltante.
Cumpria eu minha pauta quando ouvi gritos. Como que se justificando, o
policial me diz: “sabe como é, às vezes temos que fazer algumas gentilezas com
o cidadão para conseguir a confissão”. Não tive nem tempo de expressar
minha indignação. Seguidos aos gritos vieram tiros e o policial mandou que
eu me protegesse.
Não me fiz de rogado, mais que imediatamente me joguei embaixo da mesa e
esperei a confusão passar. Ouvi gritos – Pega! Pega! – e um alvoroço. Como os
tiros pararam, achei que dava para levantar e ver o que havia acontecido.
Quando estava saindo da sala, volta o policial me conta: “o desgraçado
fugiu. O cara estava algemado, mas alguém deu mole e deixou os braços dele pra
frente. O f.d.p. (estou evitando palavrões neste espaço) pulou do terceiro andar,
caiu em cima do carro do escrivão e fugiu pela mata”.
Excelente história!
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