A Assembleia Legislativa do
Rio guarda muitas histórias da vida política do Brasil e do Rio. Naqueles
corredores compridos com pé direito alto, muitos acordos políticos foram
costurados, muitos acordos espúrios foram firmados e muitas pessoas do bem, outras
nem tanto assim, circularam.
O pé direito alto tem relação direta com a história que vou contar hoje. Ontem eu falei do escândalo do Propinoduto, ocorrido em 2003, aquele esquema de corrupção nas inspetorias da Secretaria Estadual da Fazenda.
Agatha Christie surpreendeu ao colocar o narrador de uma de suas histórias como assassino, no entanto, a política brasileira não surpreende. Muitos dos parlamentares que integravam a CPI do Propinoduto deveriam estar no papel de investigados, não de investigadores.
E nessa brincadeira surrealista a imprensa do Rio de Janeiro se mobilizou para aquelas sessões no imponente Palácio Tiradentes. A construção do Brasil Colônia, como já disse, tem o teto alto e isso se transformou num obstáculo na hora de fazer a cobertura.
Na primeira audiência da comissão foi um “parto de ouriço” conseguir qualidade nas sonoras. A caixa de som ficava no teto e consegui aproveitar pouca coisa do que foi dito. Fui pra casa pensando em como resolveria aquele problema.
Como alguns já sabem, fiz o segundo grau no Cefet e sou técnico em Edificações. Ok, um técnico abaixo da média. Isso não é falsa modéstia, é realismo. No entanto comecei a bolar um jeito de colocar meu gravador perto das caixas de som.
Não demorei muito para inventar uma traquitana simples. Fui ao setor de manutenção da rádio e pedi um pedaço de madeira com uns 4 metros de comprimento. Em uma das pontas, pedi que o técnico em manutenção fixasse uma prancha de madeira que devia ter o tamanho de uma prancheta. E na base foi colocado um arremate para que o gravador pudesse ficar nele. (O desenho ilustra o meu engenho, mas como vocês podem constatar, a prancha de madeira tem 30 centímetros e está quase do mesmo tamanho que o pedaço de madeira com 4 metros. Eu disse que era um técnico abaixo da média. Além disso, fui reprovado em desenho no primeiro ano).
A chegada na redação já foi um acontecimento. Fui mostrar a engenhoca e fui alvo do escárnio de meus colegas. Resoluto, desci pelas escadas, já que meu companheiro de trabalho não cabia no elevador.
Quando cheguei na portaria, o motorista da rádio me perguntou para onde iríamos e eu disse que o destino era a Alerj. Acomodar o instrumento de trabalho no carro foi difícil. Tivemos que atravessar o pedaço de madeira na diagonal, boa parte dele ficou para fora do veículo.
Ao sair do carro na Alerj, assustei os seguranças. O que seria aquilo? Um fundamentalista que faria um atentado contra a casa legislativa? Um sindicalista que estava revoltado e pretendia depredar o velho prédio? Mostrei meu crachá e eles viram que eu era um trabalhador tentando realizar da melhor forma meu ofício. Depois da aprovação da assessoria de imprensa pude entrar na Alerj.
A negociação na porta da assembleia atrasou minha entrada e quando cheguei, a sessão já havia começado. Munido com a cara de pau que o criador me deu, entrei na sala. Eu e aquele pedaço de pau marcamos presença. Tenho a impressão que houve uma pequena pausa na hora da minha entrada. No entanto, não posso garantir, passados quase 15 anos talvez minha memória tenha acrescentado elementos dramáticos à narrativa. Coloquei meu gravador na prancheta e as sonoras melhoraram.
Não me lembro como se deu a negociação, mas o certo é que o novo instrumento de trabalho ficou na assessoria e foi usado democraticamente por varios veículos de imprensa.
Eu usei pouco, na verdade. Acho que pelo fato das sessões serem de tarde ou começarem mais tarde, não me lembro o motivo, mas fiz poucas matérias naquela CPI. Minhas amigas Simone Lamin e Carolina Morand utilizaram mais a geringonça.
O humor sarcástico delas deu um apelido para o novo equipamento: “pau do Creso”. Elas brincam e dizem que usaram muito o “pau do Creso”, ou ainda que o “pau do Creso” facilitou muito o trabalho delas.
Quanto à CPI do Propinoduto, acho que o “pau do Creso” foi o que guardei do evento. Aliás, o Propinoduto foi gorjeta perto do que aconteceu depois no estado do Rio de Janeiro.
O pé direito alto tem relação direta com a história que vou contar hoje. Ontem eu falei do escândalo do Propinoduto, ocorrido em 2003, aquele esquema de corrupção nas inspetorias da Secretaria Estadual da Fazenda.
Agatha Christie surpreendeu ao colocar o narrador de uma de suas histórias como assassino, no entanto, a política brasileira não surpreende. Muitos dos parlamentares que integravam a CPI do Propinoduto deveriam estar no papel de investigados, não de investigadores.
E nessa brincadeira surrealista a imprensa do Rio de Janeiro se mobilizou para aquelas sessões no imponente Palácio Tiradentes. A construção do Brasil Colônia, como já disse, tem o teto alto e isso se transformou num obstáculo na hora de fazer a cobertura.
Na primeira audiência da comissão foi um “parto de ouriço” conseguir qualidade nas sonoras. A caixa de som ficava no teto e consegui aproveitar pouca coisa do que foi dito. Fui pra casa pensando em como resolveria aquele problema.
Como alguns já sabem, fiz o segundo grau no Cefet e sou técnico em Edificações. Ok, um técnico abaixo da média. Isso não é falsa modéstia, é realismo. No entanto comecei a bolar um jeito de colocar meu gravador perto das caixas de som.
Não demorei muito para inventar uma traquitana simples. Fui ao setor de manutenção da rádio e pedi um pedaço de madeira com uns 4 metros de comprimento. Em uma das pontas, pedi que o técnico em manutenção fixasse uma prancha de madeira que devia ter o tamanho de uma prancheta. E na base foi colocado um arremate para que o gravador pudesse ficar nele. (O desenho ilustra o meu engenho, mas como vocês podem constatar, a prancha de madeira tem 30 centímetros e está quase do mesmo tamanho que o pedaço de madeira com 4 metros. Eu disse que era um técnico abaixo da média. Além disso, fui reprovado em desenho no primeiro ano).
A chegada na redação já foi um acontecimento. Fui mostrar a engenhoca e fui alvo do escárnio de meus colegas. Resoluto, desci pelas escadas, já que meu companheiro de trabalho não cabia no elevador.
Quando cheguei na portaria, o motorista da rádio me perguntou para onde iríamos e eu disse que o destino era a Alerj. Acomodar o instrumento de trabalho no carro foi difícil. Tivemos que atravessar o pedaço de madeira na diagonal, boa parte dele ficou para fora do veículo.
Ao sair do carro na Alerj, assustei os seguranças. O que seria aquilo? Um fundamentalista que faria um atentado contra a casa legislativa? Um sindicalista que estava revoltado e pretendia depredar o velho prédio? Mostrei meu crachá e eles viram que eu era um trabalhador tentando realizar da melhor forma meu ofício. Depois da aprovação da assessoria de imprensa pude entrar na Alerj.
A negociação na porta da assembleia atrasou minha entrada e quando cheguei, a sessão já havia começado. Munido com a cara de pau que o criador me deu, entrei na sala. Eu e aquele pedaço de pau marcamos presença. Tenho a impressão que houve uma pequena pausa na hora da minha entrada. No entanto, não posso garantir, passados quase 15 anos talvez minha memória tenha acrescentado elementos dramáticos à narrativa. Coloquei meu gravador na prancheta e as sonoras melhoraram.
Não me lembro como se deu a negociação, mas o certo é que o novo instrumento de trabalho ficou na assessoria e foi usado democraticamente por varios veículos de imprensa.
Eu usei pouco, na verdade. Acho que pelo fato das sessões serem de tarde ou começarem mais tarde, não me lembro o motivo, mas fiz poucas matérias naquela CPI. Minhas amigas Simone Lamin e Carolina Morand utilizaram mais a geringonça.
O humor sarcástico delas deu um apelido para o novo equipamento: “pau do Creso”. Elas brincam e dizem que usaram muito o “pau do Creso”, ou ainda que o “pau do Creso” facilitou muito o trabalho delas.
Quanto à CPI do Propinoduto, acho que o “pau do Creso” foi o que guardei do evento. Aliás, o Propinoduto foi gorjeta perto do que aconteceu depois no estado do Rio de Janeiro.
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