É, diriam
os chefs com vocabulário mais informal: “salgou” pro Kevin Spacey. A Netflix
decidiu demiti-lo e não quer nenhuma participação em projetos que o ator
estiver envolvido, cancelando, inclusive, uma produção sobre o escritor
americano Gore Vidal, que estava em fase final. É, “salgou” pro Paolo
Guerrero. O atacante do Flamengo e da seleção peruana vai pegar um gancho
preventivo de 30 dias e se o resultado da contraprova der positivo, ficar fora
da Copa do Mundo, numa eventual classificação peruana, seria o menor de seus
problemas.
Citando Ana Carolina (sim, ícones pops não devem sofrer preconceito), em
qual rua a vida de Guerrero encostou na de Kevin Spacey? Os dois são ídolos,
presenças marcantes nos noticiários e ficaram com a reputação extremamente
arranhada. Por algum circuito estranho em seus cérebros, os dois passaram
limites que não deveriam transgredir.
Por favor, mais apressados, sei que a dimensão do que eles fizeram é
completamente diferente. Kevin Spacey teve um comportamento abusivo reiteradas
vezes. Como a vida é redonda, pode ser que algum pedido de desculpas pungente
ou investigações inconclusivas impeçam o término da carreira do ator.
E, se fosse no Brasil? Será que as consequências seriam as mesmas? Na
mesma época que “salgou” pro José Mayer, o empresário Silvio Santos disse
que o ator deveria ser contratado pela Record. Sem querer passar uma ideia de
vira-lata complexado, mas se nos EUA Kevin Spacey está indo pro "vinagre", por
aqui, o dono de uma TV sugere a contratação de José Mayer para que ele continue
a carreira como "prato principal".
No caso de Paolo Guerrero, poderíamos citar Lobão (agora ferrou, vou
sofrer patrulhamento) “eu não posso causar mal nenhum, a não ser a mim
mesmo”. A droga detectada na urina do atleta pode ser encontrada na cocaína e
em alguns remédios. Não conheço o jogador, não sei das suas aventuras noturnas
e por isso estou inclinado a aceitar a versão de que a substância foi ingerida
por uso de medicamentos. Não interessa! Para o tribunal da sociedade da
vigilância, a sentença já foi proferida. O jogador usou a droga. Os torcedores
dos outros times já criaram memes brincando com a expressão “cheirinho”, usada
pelos rubro-negros para dizer que um título está próximo. A propósito, esse tal
de “cheirinho” dá um azar danado!
O que faz um profissional transgredir uma regra básica como essa? Se ele
tomou remédio com substâncias proibidas, por qual motivo não avisou aos médicos
do clube? Guerrero não é garoto, é rico e realizado no futebol. Acho que a
citação ao Lobão ficou imprecisa. Guerrero fez mal a todo o povo peruano,
apaixonado por futebol, que depois de mais de três décadas poderia voltar a uma
Copa do Mundo. Fez mal à torcida do Flamengo que tinha nele uma referência na
disputa do único título que o clube ainda pode ganhar na temporada.
Guerrero e Kevin Spacey se encontraram de novo no que pode ter motivado
suas atitudes: a certeza da impunidade; no achar que o que faziam dizia
respeito somente a eles. Mas na era da vigilância e do espetáculo a busca pela
performance profissional perfeita, o hedonismo e a satisfação a qualquer custo
cobram seu preço. Guerrero, o “drogado”, Kevin Spacey, o “abusador”. Os dois
terão que conviver com seus demônios e tentar apagar esses rótulos. Vão ter que sobreviver a essa "fritura" em fogo alto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário