Dia de
Flamengo e Independiente. Chego cedo ao estádio. Não consegui comprar ingressos
antecipadamente. É final e lugar de rubro-negro é no Maracanã. Um grande amigo
está comigo. Ele tem ingresso e eu não. Por obra do divino acaso, uma
bilheteria vende as entradas. Jogo-me na insana luta para conseguir o ingresso.
Depois de uma batalha digna do coliseu romano, consigo as entradas para o
coliseu futebolístico. Isso aqui é Flamengo! Vamos ganhar desses gringos! Jogo
complicado, mas o Flamengo abre o placar. No meio do jogo, a torcida que não
conseguiu ingresso invade o estádio. Estou sentando no meu lugar, mas
repentinamente as escadas e as cadeiras são tomadas por uma multidão. No fim, a
frustração. O Flamengo não reverte a situação do primeiro jogo e os argentinos
são campeões no Maracanã. Na volta para casa, impossível entrar em qualquer
transporte público. A PM dispersa tumultos com cavalos e bombas de efeito
moral. Parece que há 20 bandidos para cada policial. Ando uns três
quilômetros com meu amigo para fugir da barbárie e conseguir condução. Chego
ema casa cansado, com raiva pela perda do título, mas aliviado, porque cheguei
sem me machucar.
O relato
acima é de um jovem de 24 anos, que em 1995 foi assistir uma final entre
Flamengo e Independente no Maracanã. O pior, poderia ter sido na última quarta-feira.
Talvez algum aluno meu, nascido em 1993, tenha passado por experiência
semelhante em 2017. E vamos enfiar Karl Marx nesta discussão. A história se
repete a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.
A polícia
do Rio e a diretoria do Flamengo estão se esforçando para que a frase do
pensador alemão se concretize. Há 22 anos eventos semelhantes
ocorreram. Se você adiantar ou atrasar esse filme, vai se deparar
recorrentemente com esses episódios de violência.
No
entanto, há uma imprecisão em Marx. A farsa da repetição faz com que a tragédia
só aumente.
Flamengo
e governo do Estado fazem um jogo-de-empurra de responsabilidades, quando na
verdade a culpa é dos dois. Um programa sócio-torcedor excludente, a relação
promíscua entre clubes e torcidas organizadas, somadas à falência do estado
agravaram as consequências de algo previsível.
Evito falar de futebol nesse espaço. Tenho tentado ser mais generalista, abordando
música, política, “causos” de família e até minha parcas tentativas de colocar
o corpo em movimento.
Além do que, ultimamente, tenho acompanhado mais meu time e menos o futebol
em geral. Logo, eu sou rubro-negro, mas não tenho a intenção, até por achar
desnecessário, de transformar este espaço num blog do Flamengo.
Achei algumas das piadas após o jogo engraçadíssimas. Uma com a imagem
do Cid Moreira novo e a inscrição “ Vi CId Novo” era sensacional. Eu realmente
levo na esportiva. Quem não está preparado para esses embates, nem deve “descer
pro play” das redes sociais.
No entanto, vou passar ao largo de minha frustração esportiva. Vou falar
de minha frustração “cívica”. O que aconteceu na noite de quarta-feira no
Maracanã foi inominável. Aqueles bandidos aproveitaram a debilidade da
segurança no estado e passaram de todos os limites.
O Flamengo tem que ser exemplarmente punido, perder mandos de campo como
aconteceu com o Vasco, por causa da selvageria no primeiro turno do brasileiro,
no jogo contra o próprio Rubro-negro.
Quem sabe punido, o clube se posicione de forma veemente contra esses
bandidos. Todos sabiam que iria acontecer alguma coisa. A confusão na porta do
hotel do time argentino já prenunciava que algo grave estava a caminho.
Vi um filme excelente chamado “Um homem entre gigantes”. O filme conta a
história de um médico que descobre o risco para os atletas que praticam futebol
americano. A história é verídica e mostra como a NFL, a CBF do futebol
americano, quis desmoralizar o estudo. Em um momento do filme um dos emissários
da NFL fala o seguinte:: “se 10% das mães acharem perigoso que seus filhos
joguem futebol, em 20 anos o esporte acaba”.
Citei o filme, pelo seguinte: que pai ou mãe vai permitir ou incentivar
em sã consciência que seu filho vá a um estádio de futebol depois de ver as
cenas de quarta? Tenho dois filhos, não vou colocá-los em risco. Não vou ao
estádio. E sabe o que vai acontecer? Eles não vão criar a identidade com o time
que podem ver ao vivo nos fins de semana. Daqui a pouco, num jogo entre
Flamengo e Barcelona, o gol do Messi vai ser mais importante que o gol do
Vizeu. Aí amigos, o futebol brasileiro acaba.
Tenho vergonha por ter sido com bandidos que vestiam a camisa do time
que torço. A imagem do clube ficou arranhada. No entanto, esse tipo de pessoa veste o uniforme de todos os
times. A violência independe das agremiações;
Acabo de me lembrar de Ben Parker, tio do Homem Aranha: “grandes poderes
carregam grandes responsabilidades”. Então o Flamengo, com a maior torcida do
país tem que liderar esse processo. Talvez perder mandos na Libertadores
seja a primeira coisa a acontecer para que o clube entenda seu papel. E a
repetição dos casos deveriam acarretarno aumento da pena, progredindo até para a
exclusão do torneio.
O que aconteceu na noite de quarta-feira no Maracanã e nas imediações
foi uma constatação perversa da matemática, em que menos com menos dá menos
ainda. Menos segurança com menos civilidade tem como resultado menos
humanidade.
E em nada ajuda a atitude dos jogadores rubro-negros de não aceitarem as
medalhas pelo segundo lugar. Aliás, contribui para a perda da civilidade e do
espírito esportivo. O resultado pode ser constatado pelas agressões covardes de
um bando que deveria estar preso.
Uma estrutura corrupta como a CBF e um futebol contaminado pela
insanidade de bandidos são a receita certa pra matar o esporte. Passou da hora
desses falsos torcedores serem identificados e banidos dos estádios. Quem sabe
um dia, possa levar meus filhos em jogos decisivos sem me sentir colocando-os
em risco.
Sensacional!!!
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