Vinte
de maio de 2005. Eu recebera uma missão naquela manhã. Ouvir a programação da
Bandnews. A emissora começara suas transmissões naquele dia e a CBN ganharia
uma concorrente. Do outro lado daquela “trincheira” havia várias pessoas
queridas, como por exemplo, o jornalista Mauro Silveira, responsável pela
equipe no Rio. Logo no começo do programa local, a repórter Vanessa Freitas,
uma dessas pessoas queridas, entrou da porta de um hospital público com uma
entrevistada. A mulher acabara de ter um problema na unidade. Ouvintes no ar e
Ricardo Boechat interagindo com a repórter...
A
direção nos reuniu e falou: aquela rádio não era concorrência. A CBN não queria
fazer aquele tipo de radiojornalismo. Realmente, era outra pegada.
Estavam
delimitadas ali, em 10 minutos de programação as diferenças entre a CBN e
Bandnews. Uma teria uma veia mais popular e outra continuaria com um sua linha
mais tradicional.
Para
mim há um jeito esquemático, alguns poderiam dizer pobre, para separar as duas
emissoras: a CBN segue uma linha mais clássica, ao passo que a Bandnews faz um
radiojornalismo de “rede social”.
Enquanto
a CBN “vende” credibilidade, a Bandnews “vende” velocidade. No jornalismo, como
na vida, tudo depende do acordo estabelecido com o outro.
Quem ouve
a CBN confia que uma vez dada no ar, a informação não será desmentida. Quem
busca a Bandnews espera ser informado o mais rapidamente possível sobre o que está
acontecendo. Se por um acaso a notícia não estiver correta, os repórteres da
Band corrigem e tocam o barco. Vale a rapidez da informação.
Outro
aspecto que diferencia as duas é a participação dos ouvintes. A Bandnews criou
uma rede de informantes, que entram no ar e fazem flashes longos, quase como se
fossem repórteres da casa. O ouvinte se identifica com a emissora. A
Bandnews é mais ágil e dá mais espaço ao local.
Já na
CBN, o ouvinte é fonte, mas suas informações precisam de confirmação. No caso
da escola Tasso da Silveira, em Realengo, quando um homem matou 12 estudantes,
a Bandnews deu a informação mais rápido do que a CBN. Um pai, que tinha um
filho na escola, era ouvinte do Ricardo Boechat, ligou pra lá e contou o que
estava acontecendo.
O que
nasceu por um problema estrutural, a Bandnews não ter o número de repórteres da
CBN, acabou se tornando o grande trunfo da emissora dos Saad. Os ouvintes
formam um exército de olhos e ouvidos para a Bandnews.
A emissora
conseguiu outra arma importante nesta batalha: Ricardo Boechat. Ele parece o
líder carismático de um movimento popular. Jornalista dos bons, cheio de fontes
e informações, emprestou um carisma de rádio popular a um segmento careta por
natureza.
Boechat
tem um estilo combativo que foi o grande fator de desequilíbrio na disputa de
audiência na praça Rio de Janeiro entre CBN e Bandnews.
A
emissora da Rua do Russel teve durante 10 anos Sidney Rezende como âncora do
CBN Rio. Nos 3 anos em que enfrentou Ricardo Boechat, Sidney não perdeu. No entanto,
em outubro de 2008 foi demitido da emissora; De lá para cá, a CBN tentou vários
âncoras. Todos excelentes profissionais, contudo, a instabilidade do “cargo”
pesou. Foram 8 âncoras em 9 anos. Essa rotatividade não é boa quando se briga
pela audiência. Rádio é hábito, por mais que se queira reinventar essa
sentença. É bom que se diga que o interesse da CBN por audiência é recente. Na
praça Rio importava a qualidade das matérias e o prestígio. Números de Ibope
interessavam às outras emissoras do SGR (Globo e Beat 98).
Boechat
desequilibra o jogo por fazer uma rádio na fronteira dos segmentos popular e news.
Além disso, com seu perfil combativo pode herdar alguns dos ouvintes que
ficaram órfãos de Roberto Canazio, agora apresentando programa apenas aos
domingos na Rádio Globo.
A
sinergia, um termo muito em voga nos ambientes de gestão empresarial, é outro
ponto favorável à Band nesta luta. Ricardo Boechat concentra os papéis de
principal âncora da TV e da Rádio, tornando-se uma marca, principalmente nas
manhãs do Rio.
A
Bandnews pode herdar os ouvintes que eram da Rádio Globo e decidiram não seguir
a Tupi. Acho que a emissora dos Saad deveria seguir firme numa proposta de ampliar
seu público de classe C, mais popular. Procurando âncoras que pudessem fazer
esse papel combativo que o Boechat já faz de manhã.
A CBN
fez uma aposta na prata da casa. Bianca Santos e Frederico Goulart são novos
talentos. Profissionais competentes. Não se deve esperar deles, por enquanto, vencer
Ricardo Boechat no Ibope. Acho inclusive, não ser essa a proposta.
Como
jornalista, militando há 20 anos no rádio, não tenho preferência por nenhum dos
dois modelos, apesar de ter me formado na “escola” CBN. Acho que o mercado do
Rio só tem a ganhar com CBN e Bandnews fortes. Espero que a força delas
represente mais postos de trabalho. Apesar das evidências não serem estas. Mas
enquanto há vida, há esperança.
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