Em 1994 o MPB-4 fazia uma temporada no People, casa
noturna na Avenida Bartolomeu Mitre, no Leblon.
O People era um casa em que cabiam 200 pessoas. Olhando agora, acho que
o palco ficava numa posição esquisita, pois dependendo da mesa, quem assistia
ao show via o artista de costas.
No entanto, em charme, o People era imbatível. Sobre o People escreverei
em outro post. Hoje quero me lembrar da temporada do MPB-4.
O grupo vocal faz parte da história da música brasileira. A parceria com
Chico Buarque em Roda Viva não perdeu o brilho mesmo passados mais de 50 anos
da primeira gravação. Adoro conjuntos vocais e o MPB-$ e o Boca Livre são os
meus preferidos.
Eu era assistente de produção do People e regulava em idade com o João,
filho do Ruy, e com o baterista do MPB-4, o Marcos, filho do Miltinho. A
resenha após os shows era impagável. Em algumas oportunidades, o Ruy se juntava
às nossas conversas.
Agora vou ter um ataque de nostalgia. O Rio era outro. A gente saía do
People na Bartolomeu Mitre andava até o Real Astoria, o Jobi (primeira versão).
ou ia na Pizzaria Guanabara. Nossa, parece que foi em outra vida. A noite era
uma adolescente insone e aos 23 anos eu era um boêmio. O problema é que não
trocava o dia pela noite como manda o manual do boemia. Eu estudava e então. dormia
quando dava.
Numa dessas esticadas após o show, o Ruy Faria foi com a gente. As
histórias que o cara tinha para contar eram sensacionais. Ruy, vou tomar a
liberdade de falar uma delas.
Um dos grandes sucessos do MPB-4 é Amigo é pra essas coisas. O Ruy,
falecido nesta quinta-feira aos 80 anos, contou que numa ocasião, durante uma
temporada no interior, ele e outro integrante do grupo foram a um bar após o
show.
A noite já ia adiantada, quando os convivas pediram que os dois
integrantes do MPB-4 cantassem o sucesso.
Os dois não se fizeram de rogados e foram ao palco improvisado. A música
começou e eles descobriram, constrangidos, que só sabiam a parte deles, ou
seja, metade da música não poderia ser cantada.
Ruy contava essa história com muito bom humor. O que poderia ser
contabilizado na coluna das vergonhas era tratado como mais um passo engraçado,
numa trajetória de pleno êxito.
Gostaria imensamente de dizer que era amigo do Ruy, infelizmente não seria
verdade. No entanto, tenho um orgulho danado de ter compartilhado uma boa
resenha e dado muitas gargalhadas com o cantor.
Ruy, a melhor forma de homenagear um cantor que se vai é eternizar sua
voz. Citei duas canções do repertório do MPB-4 que eu adoro, mas a minha
preferida é A Lua.
Mente quem diz que a Lua é velha e que acha que artistas morrem.
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