Quinta-feira chega às telas brasileiras The Post -
A guerra secreta- de Steven Spielberg. O filme trata de um episódio que ficou
conhecido como os papéis do Pentágono e conta a luta que a dona do The Washington Post, Katharine
Graham, e o editor chefe do jornal, Ben Bradlee, travam com a Casa Branca para
divulgar documentos secretos sobre a Guerra do Vietnã.
Spielberg deixa claro que o filme faz paralelos com a realidade atual
dos EUA, quando Donald Trump tenta de todas as formas atormentar e censurar o
trabalho da imprensa livre, sendo um ícone no uso das notícias falsas na
internet.
O filme mostra a importância de um jornalismo sério, preocupado com um
bem maior que é a pluralidade de informações e a transparência.
Apesar das inúmeras plataformas de divulgação de conteúdo, não
inventaram nada melhor do que o jornalismo para contar a história dos nossos
loucos tempos.
Jornalismo, aquele ofício que dá um trabalho danado, que requer esforço,
sacrifício e devoção. Um trabalho difícil que muitas vezes é menosprezado e até
vilipendiado. “Jornalista é um fofoqueiro” e “A culpa é da imprensa” são
algumas das sentenças empregadas pelos que se sentem incomodados com o trabalho
desempenhado nas redações físicas (cada vez menores) e virtuais.
Uma grande questão dos nossos dias é a pouca disposição em pagar para
receber notícias, pois as redes sociais suprem o desejo por informação.
Torresmo, bacon e feijoada matam a fome. No entanto, consumidos em excesso,
entopem as veias. Esse jornalismo de notícias falsas entope as veias da
democracia e da liberdade de expressão.
Jornalismo é buscar o contraditório, é ser chato na aventura de colocar
luz onde se quer a escuridão a todo custo. Jornalismo é feito com curiosidade e
técnica.
Isso diferencia um jornalista profissional de um colaborador
jornalístico. Não dá para ser “repórter por um dia”. Repórter é repórter o dia
inteiro, todos os dias.
O jornalismo é um sacerdócio, com privações e dificuldades. Jornalismo é
encontrar portas fechadas e telefones ocupados e fora de área. E mesmo diante
disso saber o que ocorreu dentro da sala e o que falaram ao telefone.
Sem o jornalismo jamais saberíamos o que ocorre nessas reuniões de
portas fechadas. Jornalistas escrevem o evangelho dos nossos dias. Já repeti
essa frase tantas vezes, mas ela continua a me valer quando vejo a profissão
depreciada.
A atitude do Facebook de pedir que usuários listem sites confiáveis pode
ter dois efeitos opostos. O primeiro, valorizar os grandes veículos que fazem o
chamado jornalismo tradicional. O outro, que para mim é o mais provável, fazer
com que incontáveis sites que fazem mau jornalismo proliferem e abafem os
veículos “profissionais”.
Não sou ingênuo, as corporações jornalísticas tem seus interesses, minha
defesa não é a dos veículos tradicionais. Minha defesa é a do jornalismo
profissional.
Por viver disso, o jornalista profissional tem noção das consequências
do seu ofício. O jornalismo morre um pouco quando alguém acha que é jornalista
porque tirou uma foto e postou no Instagram. O jornalismo é ferido de morte
quando os donos de veículos trocam mão-de-obra especializada pelo “olhar de repórter”
do espectador, do leitor e do ouvinte. Depois, não podemos reclamar da perda de
relevância da profissão.
A intolerância vem de não compreendermos o papel do outro. Supervalorizamos
o que fazemos e achamos extremamente fácil o que a outra pessoa faz.
Essa história de que todo mundo é jornalista me lembrou uma passagem do
filme Os incríveis. O vilão, Síndrome, faz armas para que todos virem super-
heróis. E num momento deixa explícita sua intenção: “se todos forem super-heróis,
não existirão mais super-heróis...”
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