A PUC entrou na minha vida quase por acaso. Eu
estava de férias no verão de 2006. Toca o telefone e do outro lado da linha a
diretora da CBN na época, Mariza Tavares, me pergunta: “você gostaria de aula
na PUC”?
Já estava em sala de aula há 4 anos. Respondi que sim imediatamente. A
PUC estava mudando o currículo e teria mais aulas de rádio. Mariza foi
procurada e me indicou. Aquela frente de trabalho veio a calhar. Minha filha
mais nova estava com dois meses. O reforço no caixa era essencial.
Reuni-me com o então diretor da Faculdade de Comunicação, César Romero,
ele me apresentou o currículo e me deu uma notícia preocupante. As aulas seriam
terça e quinta das 13h às 19h.
Você deve estar perguntando o motivo da notícia ser preocupante. Eu respondo.
Dava aula na Estácio das 19h às 23h. A menos que eu desenvolvesse o dom da
ubiquidade, aquela missão tinha tudo para dar errado.
Ao iniciar o semestre na PUC, combinei com a turma das 17h, que a aula
começaria pontualmente e que eu sairia as 18h40. Então minha rotina as
quintas-feiras seria assim: 6h às 12h40 - CBN; 13h às 18h40m - PUC;
19h às 23h - Estácio de Sá.
No papel, tudo uma beleza. O problema era colocar em prática essa agenda
no trânsito do Rio de Janeiro. Eu trabalhava 17 horas naquelas quintas-feiras.
Meu intervalo era somente durante o deslocamento.
Empolgado, pego um táxi às 18h40m para estar no campus Rio
Comprido às 19h. Cheguei às 19h25m. Fracasso na primeira
tentativa.
Fiquei uma semana pensando em como resolver o impasse. Cheguei a
conclusão que o taxista não se emprenharia loucamente no trânsito para que eu
chegasse ao meu destino na hora. Iria com meu carro. Chegamos à
quinta-feira. Às 18h40m dei partida no possante. Agora sim, eu, esse
Ayrton Senna redivivo, chegaria na hora. Minhas ilusões acabaram na Praça
Sibelius, na Gávea. Cheguei à Estácio às 19h40m, ou seja, uma hora depois
da partida.
Na manhã seguinte, liguei para meu guru de trânsito na cidade, o amigo
Genilson Araujo. Contei a ele minha agenda kamikaze e perguntei como fazer.
Poderia haver alguma rota que eu não pensara ou alguma coisa que me salvasse,
sei lá, um helicóptero.
Genilson então me perguntou: “você pilota moto?” Não, eu não pilotava
moto. Então o repórter aéreo me deu a dica: ‘Vai de mototáxi’.
Assustei-me. No entanto, ele insistiu: ”quando você estiver saindo da
Estácio, veja com algum daqueles mototaxistas que ficam na porta se eles podem
fazer o serviço”.
Segui o conselho. Abordei um dos mototaxistas e propus o acordo. Pagaria
R$ 12 pela viagem. Genilson reclamou. Disse que “inflacionei” o mercado.
Na quinta-feira seguinte, o mototaxista estava lá pontualmente. Coloquei
o capacete, do qual não faço ideia da procedência ou das cabeças já habitara, e
segui viagem.
Uma beleza! Cheguei em 19 minutos. Meu problema de agenda estava
resolvido. Contando hoje, 12 anos depois, foi fácil. Mas gostaria de
expor alguns detalhes das viagens.
O mototaxista pilotava pelo “corredor”, aquela faixa inventada pelos
motociclistas para driblar os engarrafamentos. Passar entre os carros quando
não se está habituado desperta pânico. Apertei tanto minhas pernas que fiquei
com medo do piloto se apaixonar por mim. Além disso, eu precisava de uns 15
minutos para voltar à “rotação” normal, já que a proximidade de retrovisores,
ônibus e para-choques tinha o efeito de uma dose de ritalina em meu
organismo.
O engraçado: nunca soube o nome do rapaz que me buscava e ele nunca
soube o meu. Eu o chamava de piloto e ele a mim de professor. Depois fiquei
pensando que isso era perigoso. Se o celular dele fosse grampeado, eu teria
dificuldades de me explicar. Era capaz de a polícia suspeitar de uma conexão
Turano-Gávea. Aí eu me veria personagem de Tropa de Elite.
Como sou um cidadão de sorte, o celular não foi grampeado e não choveu
em nenhuma quinta-feira letiva no primeiro semestre de 2006. Se houvesse essa
moda na época, eu postaria #tbt com uma foto na garupa do piloto.
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