Advogados reunidos, plateia apreensiva, o clima de
suspense parece exalar pela tela e contaminar todos os espectadores. O
julgamento do personagem de Gloria Pires mobilizou todas as atenções na noite
de terça-feira. A personagem fez uma revelação importantíssima para o
desenrolar da trama, desmaiou e o julgamento foi suspenso.
É possível que já esteja em curso na Internet alguma
teoria da conspiração. Houve uma coincidência de datas entre o julgamento da
novela O Outro Lado do Paraíso e o do ex-presidente Lula, pelo Tribunal
Regional Federal da Quarta Região, em Porto Alegre.
Eu acredito em coincidência, para não contribuir com os “conspiradores”.
Mesmo assim, há alguns paralelos que podemos estabelecer entre o julgamento da
ficção e o da vida real.
O mais evidente: são duas novelas. Mocinhos e vilões
estarão frente a frente. O engraçado é que dependendo de quem está olhando, os
dois lados se revezam nestes papéis.
O julgamento da novela não acabou. A personagem teve uma
isquemia e a sessão foi suspensa antes que a sentença fosse proferida. Isso
aproxima a arte da vida. Independentemente do que acontecer no TRF-4, o enredo
da novela Lula vai continuar. Ainda cabe uma infinidade de recursos.
Duda não sairá incólume de seus erros na novela. Terá que
administrar a frustração de uma filha abandonada. Lula, provavelmente, perderá
o julgamento de seu recurso e os desembargadores gaúchos devem manter a
sentença do juiz Sergio Moro que o condenou a 9 anos e meio de prisão no caso
do tríplex do Guarujá.
Defesa e acusação têm argumentos que acham invencíveis na
discussão. O que torna o julgamento de Porto Alegre um julgamento político, por
mais que os magistrados queiram passar a ideia de uma sessão estritamente jurídica.
Na novela estava em julgamento a dona de um bordel,
acusada de assassinato. Em Porto Alegre estará o presidente mais popular do
Brasil nos últimos 50 anos. A madeira do banco dos réus deve estar até
envergada, tal o peso histórico de quem a ocupa.
Vivemos um momento em que pouco importa o que a justiça
decidir. Os dois lados estão convictos de suas ideias. Caminhamos para um
Brasil ainda mais dividido do que em 2014, em que a diferença entre Dilma e
Aécio foi inferior a três pontos percentuais.
A despeito dos muitos recursos que ainda podem ser
impetrados, é provável que a decisão unânime dos desembargadores sepulte a
candidatura de Lula. Se o ex-presidente sobreviver à Batalha de Porto Alegre é
favorito a vencer pela terceira vez a eleição presidencial. Empataria o número
de vitórias e derrotas em eleições presidenciais. Poderia se tornar a única
pessoa a vencer e perder três eleições para o cargo mais importante do país.
Além de ampliar um recorde. Não me lembro de nenhum político que tenha se
candidatado 5 vezes à presidência. Se concorrer em 2018, será a sexta vez. Por
favor, se houver outra pessoa que tenha concorrido mais do que Lula, comente e
corrija o equívoco do blogueiro.
Se Lula não estiver concorrendo, vai valer uma lei do
carteado, “dá-se um tapa na mesa e embaralha tudo de novo”. Jair Bolsonaro é
representante de um segmento. Se conseguir segurar a própria incontinência
verbal, sobrevive.
Não queria ser o pragmático a colocar água no chope de
quem acredita em renovação. No entanto, há uma questão a ser pensada. Quem é o
candidato que vai aglutinar os caciques? Quem são os caciques? Sarney, Renan e
Jader, ou seja, o PMDB. Esses três, se não se dividirem, serão cabos eleitorais
fortíssimos, mesmo que não subam nos palanques.
Vitórias em eleições majoritárias dependem muito do
empenho dos candidatos nas assembleias e na Câmara dos Deputados. Sarney, Renan
e Jader são mestres nesse jogo.
Rodrigo Maia, que também entende dessa estratégia, já
lançou seu nome na roda em busca desse apoio. Se convencer a trinca e o
prefeito de Salvador, ACM Neto, que tem chances, pode até se tornar um
candidato competitivo. Alckmin também está de olho nesses caciques.
Ciro Gomes, Cristóvam Buarque e Marina Silva brigam na
mesma seara. O Collor, bem, o Collor é imprevisível.
Mas tudo passa por Porto Alegre, nesta quarta-feira. O
Outro Lado do Paraíso acaba em maio, mas a novela da vida real pode terminar bem
depois de outubro.
O texto está maravilhoso, o triste é o Brasil passar por td isso
ResponderExcluirParabéns!!!
Exatamente, Renato. Mas sou otimista. Um dia melhora
Excluir