Assistia à
reportagem sobre o casal que mantinha 13 filhos aprisionados e desnutridos em
casa, quando minha filha perguntou: “mas por que eles faziam isso”? A polícia tentou
descobrir, mas Louise Anna Turpin e David Allen Turpin não souberam dar nenhuma
resposta coerente sobre os motivos.
Este caso
me trouxe à cabeça várias questões. A primeira, mesmo submetida a um tratamento
cruel de quem o senso comum determina como alguém que a protegeria, a filha de
17 anos não se conformou, fugiu e salvou os irmãos. Pode ser contingencial, mas
vi na atitude da jovem o inconformismo adolescente. Fico imaginando como ela
esperou a chance de fugir, torcendo por algum descuido daqueles carcereiros.
Como era a dinâmica
do convívio entre os irmãos? Provavelmente havia os conformados, os alienados e
os que queriam se libertar. Para a sorte dos outros 12, a menina adolescente de
17 anos se rebelou contra a realidade cruel e abriu a janela, ganhou o mundo e
salvou seus parceiros de cárcere.
Obviamente,
o mais intrigante é imaginar como os pais foram capazes de fazer tal atrocidade
com os filhos. Não se pode pensar de uma forma reducionista que é maldade, ou
loucura. Há um método no que eles faziam. Alimentavam pouco, mantinham
acorrentados, davam brinquedos que os filhos não podiam tocar.
Penso que
na loucura deles havia também um intento de educar e preparar os filhos. Talvez
seja a exacerbação do velho pensamento criticado por Cazuza na canção Um Trem Pras
Estrelas: “Eu vou dar o meu desprezo pra você que me ensinou que a tristeza é
uma maneira da gente se salvar depois”.
Na loucura
deles, podem ter pensado que protegiam os filhos de um mundo perigoso lá fora
e, no entanto, se transformaram nos maiores algozes de quem deveriam proteger.
Mais uma
vez, minha filha me pergunta para provocar reflexões sobre este caso: “Por que
eles levaram os filhos para passeios na Disney”? Essa conta não fecha se
voltarmos a falar apenas em loucura e maldade. Talvez, esses passeios fossem
uma recompensa no sinistro processo de “educação” a que os monstros submetiam
os filhos.
Acredito
que esse caso tenha aberto mais algumas portas de terror em nossos pensamentos.
A loucura e a maldade têm um repertório vasto. Tão complexo, que às vezes ficam
travestidas de normalidade. Em mim, ficaram algumas perguntas além das que
minha filha fez.
Quantas
vezes “encarceramos” os filhos em nossos sonhos? Quantas vezes “protegemos” nossos
filhos tendo como parâmetros nossos
medos e não os deles? Por quais janelas nossos filhos vão conseguir escapar do
excesso de zelo que às vezes os submetemos?
Não tenho
respostas. Esse caso é tão complexo que pode ter sido praticado por um casal de
loucos, que se reuniu e fez uma maldade inominável com os 13 filhos sem
justificativa alguma.
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