Uma amiga me disse que está muito angustiada com
a situação do Rio. Ela segue uma página no Facebook sobre o seu bairro e
relatou que fica apavorada com a situação de violência.
Ouvi seu lamento e dei um conselho: "Não veja a página". O leitor
desavisado vai me chamar de alienado. Que estou “tirando o sofá da sala” e
colocando uma “lente cor de rosa”.
A esses leitores, peço compreensão e um tempo para que eu defenda meu
ponto de vista. A cidade tem milhões de habitantes. Estamos em tempos loucos,
em que as pessoas querem andar armadas, não dão bom dia, não pedem por favor ou
agradecem. Diante dessa realidade, é tristemente natural pequenos conflitos,
pequenos furtos e alguns fatos lamentáveis.
Essas páginas tipo Conchinchina agora, Caia Prego agora e que tais
colocam uma lente de aumento nesta realidade. Surgidas como um alerta aos
moradores, correm risco de se transformar em fiéis depositárias de nossos
medos.
Numa ocasião estava no carro da emissora que eu trabalhava. Um motorista
proativo ligou para a redação e disse que a Presidente Vargas estava toda
engarrafada. Na verdade, a nossa faixa estava engarrafada. Tinha
acontecido uma pequena batida, passando dali, tudo ia bem.
Este exemplo prosaico é para dizer que uma visão parcial e imediata pode
resultar num relato assustador. Então, como em tudo na vida, temos que ter
discernimento e bom senso na hora de ler essas páginas.
Não quero brincar de contente e ter uma visão “Pollyana” da realidade
carioca. Da janela da minha casa, nesta seta-feira, contei 8 carros do Bope num comboio pela Zona
Sul. Andar pela cidade mostra que o Rio precisa de cuidados. A Rocinha parece
sangrar incuravelmente numa sequência de fatos violentos.
No entanto, as mensagens por WhatsApp, ou as páginas feitas no Facebook
alarmam e não apenas alertam os seguidores. Lembro que na época da invasão no
Alemão, o Jornal Extra criou uma sessão É boato ou é verdade, tal o número de
informações desencontradas e falsas que circulavam pela cidade.
De domingo para cá escrevi seis textos,
dos quais três foram sobre o cuidado que se deve ter na divulgação das
notícias. Precisamos de critérios. Fontes idôneas, bom senso e responsabilidade.
Notícias desencontradas só acirram os ânimos, temperam nossa doença
social com doses de medo e intolerância. E passamos a defender o “justiçamento”
em detrimento da temperança da justiça.
Todo o assunto deve ser abordado, não há temas proibidos, no entanto, eles todos devem ter contextualização. Por isso, com medo de parecer repetitivo,
defendo o jornalismo feito por profissionais.
Aqui sim, posso estar sendo “Pollyana”, mas acredito que não chegamos ao
fundo do poço, ou que caminhamos para o
fim, tal o grau de violência e degradação. Acho que o caminhar do mundo é
cíclico. Hoje podemos ter a impressão de uma noite sem fim, mas amanhã, o sol
teimará em nascer e outra alvorada vai renovar nossas esperanças.
A cidade está numa fase ruim? Está. Nosso prefeito parece mais
preocupado com a função que sempre teve, em vez de gerir a cidade? Parece. No
entanto o Rio já sobreviveu a tantas coisas, vai passar por mais esta.
Pense nas ressacas que você teve e está aqui lendo este texto. A batida
é essa. Como cantava Elis Regina: “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas
aprendendo a jogar”.
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