Ontem as grandes campeãs do carnaval voltaram à Marquês de Sapucaí para o desfile comemorativo. Isso me fez lembrar de como começou minha relação com esse mundo. Não me tornei um profundo conhecedor, apesar de ter ido mais de 10 vezes aos desfiles. Tenho mais uma relação afetiva/amadora do que profissional. Este ano, por não estar envolvido diretamente na cobertura, não me aprofundei previamente. Sabia dos enredos polêmicos e do tom que a Mangueira daria à sua passagem, por exemplo. Mas tinha uma coisa boa. O Império Serrano estava de volta, e só por isso, já valeria assistir aos desfiles.
O primeiro samba que me “pegou pelo ouvido” foi Bumbum-paticumbum-prugurundum. Eu tinha de 10 para 11 anos e a melodia me marcou. Engraçado, até hoje quando canto algum trecho do samba, ainda me dá um nó na garganta. Talvez porque a música me garanta a entrada numa máquina do tempo.
O primeiro samba que me “pegou pelo ouvido” foi Bumbum-paticumbum-prugurundum. Eu tinha de 10 para 11 anos e a melodia me marcou. Engraçado, até hoje quando canto algum trecho do samba, ainda me dá um nó na garganta. Talvez porque a música me garanta a entrada numa máquina do tempo.
Depois fui ficando “maiorzinho”, como se dizia na minha época, e fui
aprendendo outros sambas. Mas os do Império tinham um lugar especial. Berço de
Heróis, Lenda das Sereias e o inigualável Aquarela Brasileira.
Não sou especialista em carnaval para entender quando a ruína da escola
da Serrinha começou. Por serviços prestados ao bom samba, o Império deveria ter
lugar cativo na elite do carnaval.
Mas a “força da grana que ergue e destrói coisas belas” está ausente da
agremiação há algum tempo. Se o enredo campeão de 82 criticava a Super-Escolas
de Samba S.A. em quase quatro décadas o fenômeno só piorou. Até a rival Portela
andou distante do “clube”, só retornando às vitórias no ano passado.
O Império é uma espécie de “América” do samba. A segunda escola de quem
acompanha o carnaval. Se existe animosidade de alguns torcedores com a Beija-Flor (a grande
representante das Super Escolas de Samba S.A.) e com a Mangueira, com o
Império há um olhar condescendente.
O "sarrafo" na Avenida é muito alto. No entanto, a queda de investimentos provocada pela crise nivelou as escolas por baixo. Esta seria uma chance para o Império se manter na elite. Mas nem assim a escola conseguiu recursos para fazer um desfile que lhe garantisse a permanência entre as grandes. Ficar no Grupo Especial poderia melhorar os combalidos cofres da escola.
Diferentemente do futebol, em que tenho uma “religião”, no carnaval sou
volúvel. Isso facilita meu julgamento. Apaixono-me por escolas diferentes a
cada desfile.
Mas quando se trata do Império, tenho um carinho especial. Torço para
que ele continue vivo. Vejo a escola como um símbolo, um baluarte. Pena, isso não “dá camisa”. A escola era muito mais pobre que as rivais e o último
lugar foi justo.
E lá vão meus inúmeros amigos imperianos se resignar, orgulhosos pela
tradição, mas tristes com a realidade. Que a escola que deu ao samba Silas de
Oliveira, Dona Ivone Lara, Mano Décio da Viola entre outros, não demore tanto para voltar.
O carnaval precisa do espírito imperiano para enfeitar os corações numa
maravilha de cenário. Que seja um "até breve" ao Grupo Especial.
***
Uma das fantasias-símbolo do carnaval, o
Vampiro Neolibeeralista, da Paraíso do Tuiuti, não foi para o desfile das
campeãs completa. A escola retirou a faixa presidencial. Decepcionou os novos
fãs da escola. A TV Brasil transmitiu a festa. Será que houve auto-censura, ou
foi uma condição imposta pelo governo Temer, pela TV detentora dos direitos ou pela Liesa? A liberdade de expressão levou mais um golpe. Só para dar um
exemplo do absurdo, no século XIX, o imperador Pedro II não censurava os
opositores, nem as charges que saíam sobre ele nos jornais. Há dois séculos
havia o poder moderador, agora existe o poder econômico. Qual deles causou mais
estragos?
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