sábado, 20 de abril de 2019

Flamengo está com vergonha da favela?

É um absurdo a decisão do departamento que administra as redes sociais do Flamengo de proibir a expressão “festa na favela”. A justificativa, segundo reportagem publicada pelo jornal Extra, de que o termo remeteria a uma expressão de violência é por si só preconceituosa. Ao gritar “festa na favela” a torcida afirma ser uma festa popular, em que estão eliminadas as diferenças sociais. Ao cantar “festa na favela” a torcida se apropriou de uma expressão usada para deprecia-lá e devolveu com um canto de exaltação. 

No entanto, o Flamengo do êxito financeiro, das arrecadações milionárias quer “embranquecer” suas tradições. O Flamengo é popular e esse é seu maior patrimônio. O título de maior expressão alcançado pelo clube no século XXI, o Brasileiro de 2009, foi conquistado sob a liderança de Adriano, um favelado orgulhoso de sua origem. Adriano, formado na base, oriundo da Vila Cruzeiro, é a cara do Flamengo. 

O Flamengo quer promover uma “gentrificação futebolística”. O termo vem do inglês Gentry, pessoas ricas que são próximas da realeza. A expressão surgiu nos anos 1960 quando vários gentryers se mudaram para um bairro operário inglês. Os preços dos imóveis no local dispararam e os antigos moradores não tiveram mais condições de ficar ali. 

O estádios tipo arena incentivaram esse processo. O fim da geral, e por consequência, a extinção dos ingressos popularíssimos foi mais um elemento para essa elitização. Conversava com um amigo vascaíno sobre o segundo jogo da final do carioca. Ele me explicou com um meme que já tinha jogado a toalha. Eu, precavido, disse que ainda haveria 90 minutos e que futebol é futebol. Ele foi curto, grosso e certeiro na resposta: “futebol é grana”. 

Que fique clara uma coisa. Não sou obscurantista, não acredito que o Flamengo será um time vencedor novamente apenas se for irresponsável financeiramente. Também não creio que é glamuroso ser campeão e dever 3 meses de salário. O que defendo é que o clube não continue com esse processo de “higienização”. 

(Aqui segue o link da negativa do Flamengo. Espero que a nota não seja apenas uma resposta depois de ver o absurdo da medida  



O Flamengo não pode ter vergonha de usar “festa na favela” em suas redes sociais. O Flamengo deve ter orgulho por ser o clube da favela. Na verdade, o Flamengo é maioria em todos os recortes sociais e etários no Rio de Janeiro. No entanto, a marca mais forte é ser o clube do “povão”. E o maior símbolo disso é ser da favela. 


O departamento que cuida das redes sociais do Flamengo deveria aprender, se não sabe: a favela deu ao Rio Cartola, Zé Ketti, Mangueira, Salgueiro e Adriano Imperador. Se há violência na favela, não se deve estigmatiza-la por isso. Deve sim haver uma inclusão para que sobressaiam a força do canto, a beleza criativa e a fibra do trabalhador que mora lá. https://www.instagram.com/p/BwfMympAzzs/?utm_source=ig_share_sheet&igshid=vqbbk5g3t7aw)

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