segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Feliz tudo para nós




Em meio ao dilúvio de calorias que desaba sobre meu corpo nessa época do ano, tento uma estiagem ao menos para refletir. É assim: fatias de pernil misturadas aos planos para o ano que vem. Aquele bolinho de bacalhau a mais e uma recordação de algo bom que aconteceu. Uma taça de vinho e um agradecimento. 

As festas de fim de ano me deixam nostálgico. Penso em quem perdi e em quem ganhei ao longo de mais uma volta da terra em torno do sol. Minha mente foi quase que abduzida para o campo esportivo nos últimos tempos. Meu time ganhou títulos e me orgulhou dentro de campo, mas ficou a desejar fora dele. Se foi o ano mais vitorioso da minha vida adulta, foi o mais trágico em se tratando de Flamengo por causa das mortes no Ninho do Urubu. 

Este ano vai ficar marcado como aquele em que concluí o mestrado. Há uns 10 anos não achava que teria repertório intelectual para enfrentar esta empreitada. Ainda suspeito que não tenho, mas virei a página. As próximas, pretendo escrever, ainda não sei como. 

Mais um ano se passou e eu não consegui transformar ansiedade em contemplação. Acho que se conseguir fazer isso será um milagre quase tão grande quanto transformar água em vinho. Por favor, não me chamem de blasfemo. Hoje em dia falar em milagres pode acabar levando você a uma crucificação digital. Se bem que há uns 2 mil anos levou a uma crucificação física mesmo. 

O calendário prestes a ser trocado e eu ainda não consegui encontrar a fronteira da teimosia com a resiliência. Acho que a fronteira está nos olhos de quem avalia. Mas sem nada melhor a fazer vou continuar tentando descobri-la em 2020. 

Uma coisa é certa. Quero ver muitas séries com minha filha, servir de sparring no xadrez para meu filho e acompanhar minha mulher em exposições e visitas guiadas. Preciso reencontrar alguns amigos, ouvir Chico Buarque com a luz da sala apagada e a luz da alma em festa. 

Quero mais picos e menos vales. Bom, como os vales são inevitáveis, quero estar com o fôlego em dia para poder escalar as montanhas. Quero força nas pernas e nas artérias. Quero para mim, mas quero o dobro para você que me dá o privilégio da leitura. 

Se tudo estiver um saco, encoste numa árvore, olhe pra dentro de si e busque um bom motivo para rir. A risada aquece o peito e faz a gente continuar andando. O mais legal da jornada é o caminho. Alguém já disse isso, não lembro o autor, então escrevo sem dar crédito. 

Feliz tudo para nós. 


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