segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

As andorinhas e a natação

Vi andorinhas no céu do Humaitá. Elas tentavam voar em arco, mas o vento parecia impedir a precisão da figura. O voo das andorinhas parecia mais uma cobra sinuosa voando no céu. 

Cobras sinuosas voando, parecem metáfora de quem usou substâncias ilícitas numa tarde de verão. Não me droguei, apenas resolvi recorrer a figuras de linguagem que pudessem descrever o momento único capturado pela minha janela

Tentei reencontrar as andorinhas, mas só consegui me deparar com helicópteros. Menos poéticos, mais eficazes. Se bem que andorinhas (no plural) fazem verão, helicópteros fazem barulho. 

Decidi que esse texto seria como uma canção de Djavan, sujeito a várias interpretações. Outro dia brincava com meus filhos sobre o que poderia significar a letra de Sina. 

O mais próximo que consigo imaginar é uma aventura no motel no momento do orgasmo. “A luz de um grande prazer é irremediável neon, quando o grito do prazer açoitar o ar réveillon”. Mas não garanto que seja isso, nem consultei o Google para saber. 

 Voltando às andorinhas, enquanto escrevia me deparei com uma delas perdida, voando em direção contrária. Não sei falar “andorinês” e avisar que as outras estavam indo em direção ao Morro Dois Irmãos. 

Depois pensei que nada me garante que a Andorinha faça parte do mesmo grupo. Aliás, existem vários coletivos para pássaros: bando, revoada, passarinhada, passarada, passaredo. Vai depender da escolha poética do freguês. Por exemplo, um rouxinol deve ser um passaredo, pomposo. Urubu é bando, apesar da nobreza nas arquibancadas. Pintassilgo, certamente é passaredo, papagaio, pela zona que faz, sem glamour, forma uma passarinhada. Um grupo de garças  eu descreveria como um passaredo, elegante e imponente. Bem esse parágrafo pode ser interativo. Escolha o pássaro e encaixe no coletivo de sua preferência. 

A gente vê o pássaro e pensa em liberdade, mas não lembra que ele tem que se proteger dos pássaros maiores, que são seus predadores e das balas de chumbinho dos que atiram pelo prazer de matar e testar a pontaria. 

Escrevi, contemplei e nesse tempo as andorinhas não voltaram e enquanto eu esperava por elas, o tempo fechou, começou a chover e eu meus planos de nadar no fim da tarde foram literalmente por água a baixo. Mas pelo menos tinha esse arco-íris da foto. 

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