“Navegar é preciso, viver não é preciso”. É melhor
desenvolver o resto do texto antes que eu seja acusado de plágio. Quando li
esta frase de Fernando Pessoa pela primeira vez, demorei a entender o duplo
sentido da palavra “preciso”.
Não saquei de primeira que não se tratava de alguém com desprezo pela
vida e sim, um sábio que entendia as imperfeições do mar, muitas vezes
metáforas da vida.
Em muitos momentos você trava prestes a fazer algo que faz parte da sua
rotina há tempos. Afastado da apresentação de um programa por cerca de um ano,
fui mediar um bate-papo.
Tudo certo. Conhecia o assunto e estava preparado. Na hora de começar,
um pigarro insistente se instalou na garganta. As palavras demoraram a vir mais
do que o habitual.
Se eu estivesse com os batimentos cardíacos monitorados, como se fazia
antigamente no Big Brother, eles registrariam um ritmo mais acelerado.
Acho que só normalizei a cadência aos “15 minutos do primeiro tempo”.
Depois senti que estava no meu lugar.
Sinto a mesma coisa quando começa o período letivo na universidade.
Principalmente no primeiro semestre do ano, por causa das férias mais
compridas.
Férias são uma benção, mas tiram o ritmo do professor. Então, até você
tomar conta da situação, rola pelo menos uma semana de aula.
Além da falta de ritmo, começar o semestre é sempre um desafio por causa
do contato com os alunos. Você precisa reconstruir a relação com eles todo
período.
O bom relacionamento com a os alunos do período anterior serve de
referência para quem chega, mas o relacionamento com cada turma é único. Tem
uma dinâmica própria.
Com o tempo você percebe o tipo de assunto que facilita o encontro com suas
almas. Tem turma que gosta de falar sobre política, outras querem falar de
filmes. Alguns grupos gostam de assuntos tipo “sofá da Oprah” (roubei o termo
da minha amiga Tatiana Siciliano).
No entanto, as incertezas, o frio na barriga e o temor de não acertar
temperam as vitórias. O segredo é transformar em impulso e não em
obstáculo.
Quando tudo está fácil demais, tem alguma coisa errada acontecendo. A
vida é mais feita de perguntas do que respostas. O desconforto faz a gente
combater a acomodação.
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